domingo, 20 de fevereiro de 2011

ruy belo

Poema Quase Apostólico

Está sereno o poeta
Desprende-se-lhe dos ombros e cai
depois em pregas por ele abaixo a manhã
Não pertencem ao dia os gestos que ele tem
não morrerão na noite seus assombrosos passos
Dizem que ele volta a pôr em movimento a roda
de crianças de atitudes desmedidas
que o vento varreu e parque algum queria
E abre os braços para deixar cair na cidade
um ano favorável ao senhor
E põe o rosto do senhor por trás das suas palavras
Elas decerto o hão-de dar a quem as demandar

Ruy Belo

2 comentários:

  1. Poeta e ensaísta português.

    O versilibrismo dos seus poemas conjuga-se com um domínio das técnicas poéticas tradicionais. A sua obra, organizada em três volumes sob o título Obra Poética de Ruy Belo, em 1981, foi, entretanto, alvo de revisitação crítica, sendo considerada uma das obras cimeiras, apesar da brevidade da vida do poeta, da poesia portuguesa contemporânea.
    Apesar do curto período de actividade literária, Ruy Belo tornou-se um dos maiores poetas portugueses da segunda metade deste século XX, tendo as suas obras sido reeditadas diversas vezes. O poeta destacou-se ainda pela tradução de autores como Antoine de Saint-Exupéry, Montesquieu, Jorge Luís Borges e Federico García Lorca.


    "Contigo aprendi coisas tão simples como
    a forma de convívio com o meu cabelo ralo
    e a diversa cor que há nos olhos das pessoas
    Só tu me acompanhastes súbitos momentos
    quando tudo ruía ao meu redor
    e me sentia só e no cabo do mundo
    Contigo fui cruel no dia a dia
    mais que mulher tu és já a minha única viúva
    Não posso dar-te mais do te dou
    este molhado olhar de homem que morre
    e se comove ao ver-te assim presente tão subitamente" (Ruy Belo)

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  2. Obrigado pela publicação Dimi, vou descumbrindo mundos desconhecidos...

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