terça-feira, 26 de abril de 2016

roubaram o domingo

e Deus, trabalhador
de todos os dias
quando vieram os bandidos
lhe roubaram o domingo
também toda a semana.
ele agora não descansa
do roubo feito em seu nome, e pensa:
quanta merdamarela emana!

quarta-feira, 13 de abril de 2016

os olhos roubaram

tudo que os olhos roubaram
você vê quando os fecha

a tensão que faz o arco
na velocidade da flecha

o silêncio do teu cabelo
crescendo numa mecha

a ferida ali sangrando
orando que se impeça

e no entanto quando os abrem
na realidade começa outra festa

sexta-feira, 1 de abril de 2016

à flor da pele - maria andersen

tão clássico
o tempo no ventre da terra
& à flor da pele

o tempo um campo
onde só o coração
desce
& fundo sente
os rios interiores

eu
sigo por esse tempo
em que a cintilante candeia alumia a mulher-
ela borda em toalhas de linho
delicadas flores.

os homens esmagam as uvas no lagar
& sobe a sede às suas gargantas
& ao alto da casa
entoam cantigas que o tempo perpetua
seus filhos adormecem ao redor das horas
& sobe por toda a casa
o denso aroma da vida

& ergue-se o tempo e a dança
pelo outro tempo da memória.
o verbo levanta-se ainda quente
como o pão saído do forno -
assim tudo se ganha & tudo se perde;
voltado o rosto para o sul – ainda se pode escutar
a melódica flauta
pela alta tempestade
o tempo
é toda essa braçada de lenha
que paciente atiras ao lume do olhar

as crianças adormecem dentro dos seus olhos
& assim seguem toda a inocência do mundo

o amor perturba a minha alma
& esse conhecimento é como uma sombra
que o céu escurece

não deixam de se comover os meus olhos
sigo o vaga-lume & as flores
(contra as vozes que nos afastam do mundo)
luto corpo a corpo com a solidão

? qual a morada do eterno retorno

não basta o bordão que trazemos na alma
porque muitas são as vozes do mundo
pela luz da candeia.

o caminho é sempre um exílio
& os olhos como águas de Quineret
.
assim o dom nos contempla…
como o vento na copa das árvores
é o som das nossas vidas no seu mistério
o tempo uma seta indecifrável
que morosamente volta o teu rosto para o espelho…

& só a flor é livre
porque nem sabe da soberba da ciência
eu
gasto meus olhos com o sal das lágrimas
& em cada primavera cavo mais fundo
pelo coração do tempo…

eleva assim o olhar até o alto da alma
& desce ao corpo para veres o infinito:

túnicas de seda & bandejas de oiro
ao redor dos séculos – ossos & esquecimento…
só a cidade estremece pelo seu silêncio criador.

a voz dos rios percorre a alma

mundo desconhecido –
? quantos séculos nos separam da de ti
ó peregrina estrela
assim o voo do cisne pela sua eterna beleza.

flores sem destino

gosto das flores sem destino
daquelas que não morrerão
ao serem cortadas no pé
e dadas a alguém na mão

...

chovia peixes
do dilúvio
o melhor desfecho

...

poetas não produzem
apenas a vida
à palavra seduzem

...

siga seguindo
quando alcançar
siga ao alcance