sexta-feira, 21 de março de 2014

vermelhança

morde tua própria carne
e pergunta: é sonho
o vermelho vivo que sangra?

vive teu próprio sonho
e pergunta à tua mordida:
é carne esta vermelhança?

vive tua sangria
e pergunta ao vermelho:
isto é próprio do sonho?

pergunta para tua carne:
é próprio do vermelho
morder o sonho?

quarta-feira, 19 de março de 2014

memórias e alucinações - maria andersen

a tua voz a contornar-me a noite
horas e humanismo com corpo doutrinal
aplainando sangue e a intenção
a rua como um objecto que não fortalece
e a derradeira solenidade é uma transgressão
um ateísmo onde se dispersam tantos olhos
queimando de distância toda a terra -
temos mãos voadoras com memórias e alucinações
e um certo epicentro na crise do poema
vemos tão perto todas as pestes
todos os ritmos todos os sangues
- e a solidão -
aprendo profundamente todos os nomes (que perco)
todas as pálpebras em que me encerro
como uma paisagem na garganta
estou ardente num lençol púrpura
onde o refluxo da vida é completo
pássaros claros a saírem-me da boca
com uma voz nas asas
o corpo é uma dança embrenhada
de ressacas cantando decifrações

quinta-feira, 6 de março de 2014

ariadne e os pombos sujos

nos fios
eletricidade e pombos sujos
Ariadne
e seus caminhos cujo
labirinto se perdeu
no espelho da corrente
de volts e watts
e pouso de pássaros imundos
onde a saída
é a porta de entrada
wireless