segunda-feira, 29 de julho de 2013

os bichos

olho para os bichos
e viro um
viro dois
caso ele tenha
duas cabeças
sei de mim quando só
não sei nada quando são
os bichos que me olham
e me vêem 
com duas cabeças

quinta-feira, 25 de julho de 2013

salivação

cospe aqui tua saliva
que cura as feridas
ainda há tempo de matar o cão
com uma só mordida
com uma só determinação
com todos os dentes
à mostra
muita raiva e salivação

terça-feira, 23 de julho de 2013

não cabe ao homem

prosa de um ano inteiro
por mais que intente
não cabe ao homem
fazer rosas ou janeiros

poemas de uma vida toda
por mais que invente
não cabe ao homem
fazer mares ou andrômedas

palavras da boca ou da mão
por mais que as tente
não cabe ao homem
fazer do ouvido o coração

leituras de olhos e visão
por mais que atente
não cabe ao homem
fazer menos do que são

segunda-feira, 22 de julho de 2013

uma mulher

uma mulher
que se respeita
merece todo o seu peito
para deitar pensamentos
e sossegados sentimentos

uma mulher
que se aperta
merece ser esperta
na medida certa
onde se aponta a seta

uma mulher
que se esvai
merece que se vá indo
de segunda a domingo
acordada ou dormindo

uma mulher
que tanto fala
seca tua boca entope teu ouvido
acaba sempre quebrando vidros
e moendo-os no teu colírio

quinta-feira, 18 de julho de 2013

os mesmos

aqueles homens foram para a guerra
americanos e voltaram japoneses
ingleses foram viciar de ópio
chineses e voltaram mandarins
alemães que foram conquistar
o mundo e voltaram gregos
holandeses que foram dividir
a áfrica e voltaram aparthados
há o caso dos que foram para curar
cristãos e voltaram macumbeiros
também existem os que foram ensinar
português e voltaram tupy-guaranis
franceses que foram roubar
territórios e voltaram tamoyos
espanhóis à procura de ouro
dos outros e voltaram aztecas
israelenses que foram humilhar
gaza e voltaram para casa homens-bombas
...
entre todos estes
o caso mais interessante
é o dos que não saíram
do lugar
mas também
nunca mais foram
os mesmos

quarta-feira, 17 de julho de 2013

bardos poetas 4


secreta sombra
onde palpita e decreta
minha cabeça minha sentença
tudo é isto: 
meu - teu
no tudo, pare!
no pare, mudo
e ludens...continue...
sinais - onde a fome mata o delírio
onde o delírio é desmundo
onde a alma é a única arquitetura
amarelo fundo no fundo
números que nos doem
água que não germina
rua desavinda
penso num verso
e escrevo outro: desconverso
seco o gerânio
a pedra que é rã
que é voz e mudez
língua que é silêncio
a vida vinha de mansinho
ao encontro da vinha
e veio com as veias
e a verve de um zen
o vinho todo embriaguês
o fogo todo sexo
a janela toda mundo - a porta túnel
o meu caminho é tubo - é mar - é ar - é universo
sortes lançadas à vida
esplanada vazia
muitos nobeis dentro
os olhos além do que vêem
aqui tudo é ouro
semana passada nos livros
livrando a semana dos passos...
casúlo, o útero onde me encerro
se não ouve o canto das sereias
não sabe o que houve com as baleias
antigas as palavras
curtidas estradas
vãos das escadas e da vida
todos em progressos
semblante firme
perfilado egípcio
músculos gregos
alturas pigméias
na surdina os insetos
invadem tua morada
e conversam a voz do silêncio
que conservam,
 rasgo o calendário
os livros são meus dias
minhas horas
primeiras origens
amor conhecido e desconhecido
malha contínua a que nos ligamos
dados na estatística
números na  mesa
e a alegria é a prova do "love"
vestindo os dedos de tinta
com tantas moradas dentro
tantos números de portas encerradas
tantos sonhos dessonhados
quando gira
sol dentro do quadro
e
dos olhos

segunda-feira, 15 de julho de 2013

mais ou amenas

onde 
estamos?
nos panos!
onde estaremos?
nos ermos!
-
se apetece
não esquece
se há peste
pertence
à ordem
dos
hospedeiros
-
substantivo
substantiva
verbo
verba
e artigo
urtiga
-
menos,
mais
ou
amenas
-
que 
medo
que
meda
que
medra!
-
não mudo
mudo não falo
falo mesmo mudo
-
se a tinta te irrita não pinta
-
se a luta agiganta, aguenta
-
e o problema
somos nós
nós neles
-
se os inimigos
são amigos
ambíguos
-
o umbigo
do mundo
imundo
-
o plano
é ser humano
-
o inumano
precisa do plano
-
se tudo estivesse
quem estaria aqui
e as olharia?
-
se tudo fosse paz
o que seria dos guerreiros?
-
quem sente que os poetas são necessários se eles mentem?
-
quem haverá de haver quando tudo terá havido?
-
para que tanta dor por favor?
-
cantam desde pequenas mesmo já grandes as baleias?
-
o que não fazemos?
os cílios!
o que fazemos?
os filhos!
-
diziam os muito
antigos
uma língua
de olhos contíguos
-
não me diga nunca
que a sinuca
é a bola
que não assunta

quarta-feira, 10 de julho de 2013

desacordado

acorda maria
não enforca o teu amor
a corda maria
dá um nó bem dado
não remendado
remember
um lance de dados
desacordado

terça-feira, 2 de julho de 2013

perifa

vem de são paulo
uma saudade
vem do rio
um fio de janeiro
vem do brasil
de corpo inteiro
uma amazonas
de flecha e cheiro
vem do ser
tão baião
vem da bahia essa cor
vem de minas
essas meninas
dos meus olhos
que choram secam
e brilham
vem do samba
o meu blue rock
vem da perifa
meus primos primas
irmãos filhos sobrinhas e tias
vem do fundo
do meu coração
 aorta do mundo
na europa onde estou
distante de si
américa 
do meu sul

segunda-feira, 1 de julho de 2013

têmpora

no tempo do relógio
um segundo vai seguindo
um minuto vai diminuindo
uma hora vai agora
um dia um ano embora
uma vida que vai que vai
envelhecer nos traços
bater no pulso
ganhar impulso
saber-se senhora dos espaços
refém do tempo
da temperatura do coração
e têmpora