sábado, 23 de junho de 2012

uma vaga lembrança - hans magnus enzensberger

Nos nossos debates, companheiros,
me parece às vezes
havermos esquecido algo.
Não é o inimigo.
Não é a linha.
Não é a meta.
Não consta do Breve Curso.

Se nunca o tivéssemos sabido
não haveria luta.
Não me perguntem o que é.
Não sei como se chama.
Apenas sei que é
o mais importante
aquilo que esquecemos.

bei unsern debatten, genossen / kommt es mir manchmal so vor / als hätten wir etwas vergessen / es ist nicht der feind / es ist nicht die linie / es ist nicht das ziel / es steht nicht im kurzen lehrgang / wenn wir es nie gewusst hätten / gäbe es keinem kampf / gragt mich nicht was es ist / ich weiss nicht wie es heisst / ich weiss nur noch / dass es das wichtigste ist / was wir vërgessen haben...........EINE SCHWACHE ERINNERUNG......do livro EU FALO DOS QUE NÃO FALAM.....tradução: Kurt Scharf e Armindo Trevisan.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

impiedoso

a mansidão dos cegos
uma imensidão de credos
a demência dos pregos
e um impiedoso martelo

sexta-feira, 15 de junho de 2012

vestida para matar

perca a cabeça
cresça e desobedeça
pode tudo no reino de eros
inclusive acertar pelos erros
feliz ou infeliz a vida
sempre correu este risco
esteve in desde o início
em que um gato preto
em casa desorbitando a lua
deixou mórbida a rotina temporária
fazendo de um mês
a glória
um nome diamante
que brincando com meu peixe
vestida para matar
não há quem não deixe
e um amor  assim perdido
(salve a perdição!)
foi um erro
de ficção

terça-feira, 12 de junho de 2012

atlantique cigarette - oscar doro

Cognes comme le tambour !
Marches vers le parfum des Orients !
Lent, régulier, dans la lumière confuse d’un malentendu.
Etranger immobile, absorbé par la peur.
Cognes comme le train !
Caché dans la vapeur,
D’un moment éparpillé.
Détaché sur fond ocre,
Sans chapeau.
Bandit, corsaire fumeur de cigarettes Atlantiques


juarez souza machado - poemas

Recado ao Midas
 

Detinha o vil metal e avesso às leis eternas
Foi ter lá do outro lado e tendo se assustou
 Teve que voltar e veio mal das pernas
Viu que todo seu ouro lá nada contou

Da estaca zero agora e com certa mágoa
Tenta nova empreitada e que não seja à esmo
Porque se ele de novo der com os burros nágua
Não é falta de aviso, é teimosia mesmo.


Primavera de Amor

A brisa primaveril me trouxe o alento
Que o frio inverno levara
Quando ela disse adeus.
E hoje vivo a gritar na voz do vento
Que, tal filha pródiga torna aos braços meus.

A minha tristeza ao sentir a vêz perdida
Desiludida já bateu em retirada
Saudade que até então companheira,
Mais que correndo foi buscar outra morada.

E assim a canção que nasceu nesse motivo
Cantando eu vivo para homenagear
Aquela que hoje aqui se faz presente
Que finalmente agora torna pra ficar.
.............................................................
Este autor deixa aqui um abraço à cada
recantista e pede ao Pai maior que os cubra
de bênçãos para o seu bem, e de nossa poesia.
 
 
Paulistar
 
Hoje eu me vi reportando
O mapa do meu estado
Dois trapézios; um super-posto
O de baixo deslocado
Um pouco mais à direita
Num desenho arquitetado
P...ela própria natureza;
E o rascunho com certeza
A sete chaves, guardado.

Desnecessário dizer
Que não sou nenhum bairrista
Tampouco um vislumbrado
Piegas ou surrealista
Cada um curte o seu mapa
No Brasil é grande a lista
Mas...cá entre nós; o mais lindo
É este que estou curtindo
É o meu xodó, o Paulista!

Consultei o meu espelho
À guisa, de um conselho
De pronto, me respondeu
Podes ficar sossegado!
Jamais será encontrado
Mapa mais lindo que o teu.

Nota: Os outros, são só bonitos
 
 
O Ceará no Sul
 
 Esta canção não é minha
Longe eu querer plagiar
Não lhe dei uma só linha
Nem dela eu quero abusar
Porem aqui peço um tempo
Para poder me explicar
Seu autor um rei sem trono
É o seu legítimo dono seu mentor seu titular

... Numa cena corriqueira
Que me dei presenciar
Lá onde grassava a seca
Sem uma nuvem no ar
Eu vi um sol escaldante
Uma terra esturricar
E ouvi do rei sertanejo
Com sua viola em arpejos esta canção singular

Eu já capinei o mato eu já limpei o pomá
Agora só esperando chuva que Deus vai mandá
Já preparei o arado prá esta terra afofá
Agora espero chuve agora espero moíá

Meu tratô é o meu burrinho nunca foi de se encostá
Separei semente boa prá nesta terra jogá
Mio feijão jirimum e o que mais dé prá prantá
Agora espero chuve agora espero moíá

Se vie coieita boa meu paió se abarrotá
Vou vende a minha safra trato de aço buscá
Dá descanso à um cumpanheiro que só faz me ajudá
Agora espero chuve agora espero moíá

E aquele rei cantava sem do céu os olhos tirar
Numa súplica incontida tudo nele um confiar
Nos acordes comoventes se fazia acompanhar
Agora espero chuve agora espero moíá

Numa das minhas andanças tive eu que lá voltar
Encontrei rei sertanejo naquele mesmo lugar
O seu rosto era só pranto quando veio me falar
To lembrado do sinhô tanto tempo já passô
O sinhô foi e vortô e a chuva ainda sem chegar
E eu abraçando à ele também tive que chorar

Esta canção já é minha eu acabei de adotar
Hoje eu à faço de todos que a cante quem desejar.
 
 
Será o Benedito?
 
 
 
eu já dei tudo de mim
quero que você entenda
sempre sugado prensado
feito cana na moenda

já zerado e exaurido
mais pareço com um bicho
uma laranja sugada
um bagaço já no lixo

sendo assim já não existo
ninguém mais ouve o meu grito
aqui não sou eu quem fala
quem fala aqui é meu sprito

tem pessoas achando feio
outras achando bonito
se a patroa descobrir
com certeza eu levo um pito

vai querer me dar divórcio
mas dela eu só me desquito
e se isso acontecer
acaba nosso conflito

a galera comentando
que tema mais esquisito!
samba de um poeta doido
é o dito pelo não dito

e depois de tudo isso
pergunto? será o benedito?
ou um poeta francês
já bem pertinho do obíto
 
 
 
 


segunda-feira, 11 de junho de 2012

banjos biscates e beijos - carlos emilio faraco

bom dia a quem sonhou com banjos, biscates e beijos
destes será o reino da Terra
tão esquecido pelas preces
 

sábado, 9 de junho de 2012

circo sem pão

eles decretaram o fim da história
belisque-se...
sentiu alguma coisa?
se sentiu, então:
a história está viva
o sol sempre pinta
a lua tem suas fases
as injustiças ainda são as mesmas
(nada se resolveu)
e a luta de classes
exige novas luvas e lupas...
o que sobra
é tudo circo sem pão
é apenas
ultimate fighter


lui carvalho (poema rosto)


um rosto gasta no tempo
tem rosto que fica
rosto é vida
vida é uma das faces do tempo
ah, rosto também é face
também cara
também é o que você quiser
afinal de contas
gosto é gosto
e se existe corpo e alma
o resto é rosto

sexta-feira, 8 de junho de 2012

passado

 
Posted by Picasa

eu sou o deserto - joaquim monteiro

O deserto está em mim
Com sua fina areia soluçando
Formando montículos que são meus ossos
De trilhos em veias consumido.

São dois sóis meus olhos abrasando
Tudo que em vista pousar meu fogo.
Se descanso à noite e tremo frio
É para que os répteis andem sobre a luz do corpo.

No respirar em contra-alísios me transformo
Afugentando nuvens de carinho,
Caminhando solitário, bebendo a própria sombra
Esperando encontrar oásis onde me derrame.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

clark kent

my name is
not clark kent
sou edmilson
nome de um super
herói bem dormido
sonhado e desejado

impaciência dos olhos - fátima meireles

sou em mim própria um exílio em que o tempo se escreve
é este o esplêndido buraco da paisagem em que não estou
vou por aí anónima a somar êxtases na orla dos verbos
o espelho é por dentro outra coisa
uma casa coberta de vento
um tecto que não abre nem dá sóis
é esta a impaciência dos olhos
da boca à flor da voz

terça-feira, 5 de junho de 2012

quarks e gluões

bosta não afunda
e gente depois de morta
aparece
...
os rumores vieram antes
depois os humores
...
os arquivos secretos da minha alma
foram fechados pelo coração
...
os bichos ficaram todos dopados
e a feiura fugiu
...
ela me deu de presente
uma cueca e tomou de volta
...vermelha
...
e o bode
sempre pinta no quadro
como figura humana

domingo, 3 de junho de 2012

cigarro atlântico - palhazar nasso

Bate como tambor
Vai até o aroma do Oriente
Lento, regular, na luz difusa duma novela
Estrangeiro parado no meio dum medo
Bate como trem
Escondido no vapor
Dum momento espalhado 
Destacado sobre fundo ocre
Sem chapéu
Bandido, corsário que fuma cigarro atlântico