quinta-feira, 31 de março de 2011

quarta-feira, 30 de março de 2011

sexta-feira, 25 de março de 2011

ossos - José Mateus Pereira Neto

Um por um
os ossos
depois tecidos
orgãos fluídos
& circuitos.
O corpo é,
afinal de contas
curto
só não cabe em si.

quinta-feira, 24 de março de 2011

sobre os burgueses - Valmir Jordão

os burgueses
ah! estes, sim,
sujas eternamente
as mãos devem ter.

pois de com elas comer,
coragem não têm.

quarta-feira, 23 de março de 2011

quase - José Mateus Pereira Neto

quando quase
qualifica quem,
que queres?
...
isto:
o melhor de si,
luz de dentro
vento visível
...
assim:
o de fora
nutre o de dentro
o de dentro
muda o de fora
...
então:
não se apague
nem se tranque
já se sabe
viver é risco
morrer é quase

sexta-feira, 18 de março de 2011

pin ups do apocalipse

vejo-me só
veja só
com as pin ups do apocalipse
cometas no papo
baratas no saber
santomé se existe quero crer
...
quando vc diz que é sempre assim
e que normalmente acontece
cotidianamente entristece
coxas no fundo do lar
pérolas do sistema solar
a dor é mi fá sol lá si
amar é te fazer feliz
...
olho a lua cruamente na minha noite
o dragão do bem
comete loucuras inúteis
vênus equidistante se ri
de mim...
os seios à mostra
e tantos outros
anseios

terça-feira, 15 de março de 2011

a tua

ao te ver nua
até acredito em deus
ao ver a tua
acredito nos meus
ao te ver tão sua
também
acredito nos seus

serve para
andar
acelerar
pisar
brecar
dançar
calçar
descansar
jogar futebol
acariciar barriga de grávida
casar com a perna
e ter dedos

sexta-feira, 11 de março de 2011

nasce-me à beira da boca uma maré de buscas - maria andersen

Nasce-me à beira da boca a vida –
como um jogo de perícia  mesmo quando arrebata
caçadora clandestina a disparar desatinos & ilusões pelo olhar
em que rebentam  as cordas tensas das horas como uma urgência latente
a ejacular sonhos  num halo de convulsões matinais –

os deuses estão  exaustos pela grande maré  das  buscas
gravada em sais de prata  & o canto dos cisnes na vagarosa luz dos gestos


& lá fora as horas pesam em cada passo que olho numa sede agressiva  & sonolenta
rumor que sinto por dentro a deflagrar no grito da cega fúria do andar
& a  carne                               em eminente cratera que se rasga até ao fundo
precária geografia da epiderme  madurando o outro tempo do tempo
tão demorado                            nessa indomável boca dos pássaros

um rio de palavras como protesto de uma matéria escassa  
um endereço preciso  pela alma dentro
nessa grave forma de dizer  que o amor é vadio
pela solidão das ruas sem agasalho                            entre   a pedra & a sombra

 lucidez acelerada do poema
como Cassandra fulminante  das horas
a cintilar a leve têmpera do vento

o chilreio das  aves  como um rio a vestir-me  
na devoção  das vozes que se erguem no crepúsculo

vaga flor  que construo pelo cálice  do que escrevo
modelando pensamentos entre os recifes da memória
&  tanta aridez que me grita aos ouvidos
Babilónias dos tempos no arremesso de Babel

soubesse eu  ficar quieta sem tocar palavras
sem dizer por elas o lado de dentro do pensamento
como um círculo cheio de nada
 que me esmagam  contra o peito  

dói sempre ser metade de qualquer coisa perdida
& sentir a prece dos joelhos que se dobram ao peso do poema

& o poema é no entanto tão leve aos meus olhos vagarosos

Eu olho tudo deste lado de cá da vidraça
 numa espécie de plafond   destinado a colher gritos fundos
que se erguem num espólio de  vozes  cor de  poente

enfim destrói-se a casa
 rasga-se o papel
                               & a alma  destinada a ser ela
pelo artesanal vocábulo  coalhado & tricotado na solidão

a vida é tantas vezes uma paragem longínqua
uma micro paisagem insuportável  no frio encoberto da noite
que se enche de bolor ao fim da tarde
mas nunca é tarde
para se ser corola de uma flor
para se ser corpo onde a cal já não penetra

fui algures outra coisa                                              agora sou isto
pela densidade dos  meus dedos nus
 aqui neste  espelho antecipados dos séculos
gota a gota o sangue & a  branca página do papel
nesta obsessiva vontade de fazer germinar árvores
com olhos abertos dentro do poema

sonhos, sons e bichos pequenos

noite dormida dominada
por sonhos, sons e bichos pequenos
o medo é grande
grande grande
o fantasma ilude
ilude ilude
e eu sou só
o deus que pude


pensei que fosse o sol
mas estava suando
me peguei chorando
mas estava chovendo
disse então continua
mas a lua já era
apelei para o tempo
mas estava em gotas
soltei um riso
e isso é tudo

quinta-feira, 10 de março de 2011

calcinha

sem calcinha
para que possa existir
calcinha
esta peça tão nua
que te deixa tão minha
quando você está
sem a tua

azul

aos mares
vida às profundas
belezas

aos céus
sabidas belas
profundezas

sexta-feira, 4 de março de 2011

quinta-feira, 3 de março de 2011

soçobra

hora de chegar
e chegando orar
estar ao léu
mirar o céu
e dizer chova
olhar a montanha
e dizer mova
à partir do raio
que comova
e do tempo que
soçobra

quarta-feira, 2 de março de 2011

terça-feira, 1 de março de 2011

pistas

desista
invente
suas pistas

"vestidas de noiva", mulheres da organização feminista FEMEN protestam em Kiev contra uma rádio da Nova Zelândia que premiou um homem com uma viagem à Ucrânia com o objetivo de enconttrar uma mulher para se casar

eternas

dar corda
às bambas
pernas

acordar
à pampa
eternas

maria andersen - a picasso

A PICASSO

Há seios verdes no arco de um corpo
& sobre um espelho quebrado
há olhares de onde brotam as águas
& o leite derramado sobre as mãos maternas

trespassadas de feridas
como línguas que crepitam sobre as chamas do abismo
mas sobre as colunas agita-se o brilho
& tão perto das minhas mãos: a arte
que se transforma em branca lua
sobre o silêncio das lágrimas

nos ombros há uma boca inocente e luminosa
onde o fogo alastra por esta linha de sangue –
espírito ardendo por dentro
no limite do ser.