sexta-feira, 30 de agosto de 2013

cria

vem, me cria de novo
me faz do pássaro
o ovo

queria de novo, vem
faz-me do paraíso
o além

o próximo

não incomode os mortos
segue sua dieta

deixe os vermes
que os comem
em paz

não mate os vivos
segue sua vida
inquieta

deixe o próximo
e os demais

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

onde


longe da asa
azar do onde
a ave canta
espanta homens
presos na gaiola
a ver os pássaros
voando embora

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

segredo

o segredo
é meu teu de todo mundo
o medo
é seu eu e o mundo
o mundo é segredo
de todo mundo
eu sou teu
meu é o teu medo
seu eu é teu
é segredo
e é de todo mundo
teu eu sou seu
embora isso de medo
é segredo
meu teu

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

bardos poetas 5


no fuso do meu planeta 
o para-ráio comete pecados
absorvendo sinapses alucinadas
olhos, só olhos aqui neste branco das horas e do papel
soterrando nervos e aves

o gosto pelos objetos
canetas lápis parafusos teclados
substantivando a eletricidade
dos dias e noites sem lirismo
verde minério golfando nas bocas com papoulas rubras
macramê de palavras que aponto nos livros
espelhos labirintos narcisos minotauros
raivosos por adjetivos

rosados ventos com caminhos ao contrário
orlas onde a escultura não é bússola
e os gritos são espasmos de poemas
seres inanimados desenhos animados
super-heróis desmistificados
objetos com sua própria metafísica
finisterra onde o galo é torre na catedral
e o ouro é sol a peregrinar

ao olhar para si
imagina-te no espelho do outro
andarilho dos dias a procurar medida e absinto
no fogo que faz com paus pedras raios corpos isqueiros e desejos
azul lagarto onde a preguiça se deita
 com mãe lenta a gemer ternura

criptonitas teresas anitas fátimas milagres e prazeres
cruzes nas cores com meu deus e o meu demônio
com luzes de olhos a contorcer-se
e mesmo assim
passar pelas tardes que tarde passam
musgo dos anos a dar antiguidade à rua
com línguas e fuligem

passatempo não é poema
poemas passam pelos tempos
mas não fazem o tempo andar
balouço como a cigarra nas hastes do verão
nas hostes das horas
fito os ritos os mitos as mentiras e os gritos...
minerva, esta fome sem liquidez

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

zen essa

haraquiri
me tira daqui

haicai
me dá um tombo

liberdade
me leva para o jalapão

procura-se

não reza
nem pede arrego
se arrebenta
sonega benção
mas não nega
meu nêgo
a oferecer o assento
ou o descontentamento
caso seja o caso
caso seja o intento

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

uma antiga canção

pegue na minha mão
reggae no meu corpo
uma antiga canção
esparrame lama
lágrimas e criações

crianças que dançam
no chão e no céu
e voam com asas
parecidas com papel

...crianças
que dançam
que voam
parecidas com papel...

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

não se fala mais...

não se apagam as pegadas do leopardo no próprio corpo
não se corrige o incorrigível voo das borboletas
não se vai ao futuro a não ser quando se diz dele que é o antigo futuro
não se faz um omelete sem a galinha
e não devemos nunca nunca mesmo dizer:
...e não se fala mais neste assunto!