no fuso do meu planeta
o para-ráio comete pecados
absorvendo sinapses alucinadas
olhos, só olhos aqui neste branco das horas e do papel
soterrando nervos e aves
o gosto pelos objetos
canetas lápis parafusos teclados
substantivando a eletricidade
dos dias e noites sem lirismo
verde minério golfando nas bocas com papoulas rubras
macramê de palavras que aponto nos livros
espelhos labirintos narcisos minotauros
raivosos por adjetivos
rosados ventos com caminhos ao contrário
orlas onde a escultura não é bússola
e os gritos são espasmos de poemas
seres inanimados desenhos animados
super-heróis desmistificados
objetos com sua própria metafísica
finisterra onde o galo é torre na catedral
e o ouro é sol a peregrinar
ao olhar para si
imagina-te no espelho do outro
andarilho dos dias a procurar medida e absinto
no fogo que faz com paus pedras raios corpos isqueiros e desejos
azul lagarto onde a preguiça se deita
com mãe lenta a gemer ternura
criptonitas teresas anitas fátimas milagres e prazeres
cruzes nas cores com meu deus e o meu demônio
com luzes de olhos a contorcer-se
e mesmo assim
passar pelas tardes que tarde passam
musgo dos anos a dar antiguidade à rua
com línguas e fuligem
passatempo não é poema
poemas passam pelos tempos
mas não fazem o tempo andar
balouço como a cigarra nas hastes do verão
nas hostes das horas
fito os ritos os mitos as mentiras e os gritos...
minerva, esta fome sem liquidez
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