segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

sábado, 26 de fevereiro de 2011

kleber gutierrez - "conciso"

todo ser que se permite
diferente
tem um tom consciente
que parece objetivo
todo ser que de tão complexo
acaba sendo conciso
acaba levando consigo
as sensações dos vários em que consiste

linhas

faço linhas
as suas palavras

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

call me

liguei para dizer
que te amo
noutro dia
para dizer que
te chamo
você botou
uma pá de cal:
call me !

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

tempo

nós não temos todo o tempo do mundo
e a gente pensa que sim
nós não temos tido tempo
e a gente pensa que o mundo é assim

maria andersen

O ESPÍRITO DO FOGO

O espírito do fogo, ergue-se pela imortalidade
dos poemas de Goethe de Whitman (e pelos teus)
como coração à superfície de cada poro
onde brota a respiração como uma fonte de fogo:
a idade é como as folhas que sobre os ramos
se dobram em arco sob a pressão do vento
no caminho onde desce & se comove o Outono-

ó prodigioso livro do meu ser
sentença do olhar perante o tempo
onde as cores se esbatem
& as ruas ficam desertas como se fossem
lugares esquecidos
o dia é sempre um endereço que não muda;
por eles as pétalas das flores
separam-se do caule no interno sono da germinação

todo o instante é de silêncio onde se vai à funda sabedoria
pelo enigma do sonho em que seguimos
absorvendo o pensamento –

assim a alma: onde vivo o êxtase de sentir em cada acto
o interior das coisas como um clarão a nascer na boca

- Ó dom da vida que sobe aos olhos.

josé mateus pereira neto


enquanto
não 
caio
vôo
...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

ruy belo

Poema Quase Apostólico

Está sereno o poeta
Desprende-se-lhe dos ombros e cai
depois em pregas por ele abaixo a manhã
Não pertencem ao dia os gestos que ele tem
não morrerão na noite seus assombrosos passos
Dizem que ele volta a pôr em movimento a roda
de crianças de atitudes desmedidas
que o vento varreu e parque algum queria
E abre os braços para deixar cair na cidade
um ano favorável ao senhor
E põe o rosto do senhor por trás das suas palavras
Elas decerto o hão-de dar a quem as demandar

Ruy Belo

sábado, 19 de fevereiro de 2011

valmir jordão - corpos

rostos olhos narizes esquimós
bocas línguas beijos ardentes
cabelos carícias madeixas cafunés
pescoços nucas ombros costas
peles tatos odores sabores
mãos pulsam braços abraços
mamilos dividem lambidelas
chupadas orgasmos
ventres umbigo pêlos púbis
quadris nádegas coxas pegações
joelhos pernas pés tesões
períneos vulva vagina orvalho
incomensurável prazer do caralho

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Mário Cesariny

Uma Certa Quantidade

Uma certa quantidade de gente à procura
de gente à procura duma certa quantidade

Soma:
uma paisagem extremamente à procura
o problema da luz (adrede ligado ao problema da vergonha)
e o problema do quarto-atelier-avião

Entretanto
e justamente quando
já não eram precisos
apareceram os poetas à procura
e a querer multiplicar tudo por dez
má raça que eles têm
ou muito inteligentes ou muito estúpidos
pois uma e outra coisa eles são
Jesus Aristóteles Platão
abrem o mapa:
dói aqui
dói acolá

E resulta que também estes andavam à procura
duma certa quantidade de gente
que saía à procura mas por outras bandas
bandas que por seu turno também procuravam imenso
um jeito certo de andar à procura deles
visto todos buscarem quem andasse
incautamente por ali a procurar

Que susto se de repente alguém a sério encontrasse
que certo se esse alguém fosse um adolescente
como se é uma nuvem um atelier um astro

Mário Cesariny

valmir jordão


Do Tri-centenário de Zumbi


Quilombo,Angola-Janga,
guerreando pra viver em paz,
igualdade direito de todos
salvaguardado pelos Orixás.

N'zambi,Zombi,Zumbi grande chefe
engravidou a Serra da Barriga,
de negritude,coragem,resistência
quilombola guerreiro bom de briga.

Mombaça,Congo,Camarões,Daomé
África oceânica palmarina,
enfrentando o amargo do açúcar
escravidão,tortura,má-sina.

Malungos nas várias Senzalas
Quimbundo,Mandinga,Jeje,Yorubá
em fuga,derrubam paus mandados,
pra ter tempo de jogar o Caxangá.

Valmir Jordão   

carnaval de poetas

o poeta é a mãe das artes
e das manhas em geral
alô poetas
poesia no país do carnaval
Esse cara aí em cima é Torquato Neto com suas sacadas geniais. Ele é um dos meus heróis da poesia e é reverenciando-o que anuncio aqui : à partir de hoje o blog passa a publicar outros poetas que não eu. Publicaremos poemas de Valmir Jordão, José Mateus Pereira Neto, Wilson Rossatto, Maria Andersen e quem mais chegar e se aconchegar na proposta poética deste espaço. Portanto crianças, mãos à obra e mostrem suas caras. Abraços.
                                                 Dimi Éter

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

se não agora, quando?

se não agora, quando?
se quando, onde?
se onde, como?
sabe aquela revolução
que iria acontecer no futuro?
pois é
foi transferida para hoje:
se você concorda
vê se acorda,
avise os amigos
e não dê corda
aos inimigos
senão eles sobem

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

mistério profundo do não saber (Maria Andersen)

A noite é um vasto campo onde o sonho pernoita -
mistério que as cortinas adensam
a lua uma laranja de ouro
& nas curvas mais escuras das ruas anjos caídos
onde o ar é como gritos
& as sombras que se agitam apaixonadas no seu bailado

a vida
continua nesse oculto de nós
nesse mistério profundo do não saber

vinho do pensamento em que me embriago
nesse êxtase de palavras

e o que sou?

Nem sei se sou
porque a noite é densa embora clareira
eu
estou neste corpete do tempo que me agrilhoa
neste espaço diminuto em que não caibo
porque me aumento
talvez pelas cortinas da noite onde sonho

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

toda mulher

toda mulher
faz o que quer
dá à luz, dá um beijo ou dá no pé
não se esqueça de lembrar
que a vida é muito vulgar
que a alma do negócio é a propaganda
mas o negócio da alma é a poesia.

a vida é como um retrato da tua cara
per te
fico
perto.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

sibilinos

O tempo se desvendou
nós nus nos amamos
invisível é o amor
da onde o tiramos.

Então o tempo passou
nós dois o seguimos
indizível é o amor
falando a sibilinos.

Veio vento e levou
nunca mais encontramos
intraduzível é o amor
ao longo dos anos...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

bartholomeu

Flávia e Batrholomeu (1936-2007) arquivo dimi éter
morrreu
bartholomeu
o pai que não tive
o pai meu

o único pai que tive
o papai que nunca esteve
agora que ele se foi
 o pai sou eu...

pariu

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

dois

Sou um só mas
 dois sempre foi um número doido
doído, às vezes bom demais:
queijo & goiabada
miséria & burguesia
tristeza & alegria
melô & prazer
eu & você.
Éguas me levam léguas a fundo
se tudo tem dois lados
tudo quero conhecer:
teu sexo & meu sexo
o reflexo & a origem
o gen & a gente
o corpo & a mente
viver & morrer.
Se tem Parmênides também tem Heráclito
seja qual for a diferença
são dois:
duas as suas coxas
duas vezes é que é pouco
dois lábios duas bocas
dois labirintos duas portas.

Aja duas vezes antes de pensar!
Aja duas vezes antes de pensar!

sonho

sonhamos
e quando sonhamos
nosso inimigo perde

perdemos
e quando perdemos
nosso inimigo sonha

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

como se fosse uma oração (Maria Andersen)

Sentar-me diante das palavras, e escrever como se fosse uma oração. Concentrar-me no sentido do que digo, porque esse sentido me vem, nesse poder de graça que é uma inspiração , uma dor que dói de não saber…será esse o extremo de eu assim me manifestar? Digo …não pergunto, e pergunto dizendo o que digo…
Por vezes no que digo sou uma casa desorganizada…plena de pensamentos como se fossem livros, dispersos em estantes…uns úteis, outros, absolutamente inúteis… somos em nós -sou em mim milhões de paginas por escrever e milhões já escritas…umas sempre ao pleno encontro das outras, ou por vezes em direcções tão opostas…encontro? Desencontro? Acho que nem um nem outro apenas cruzamentos que se ligam para enfim serem o que eu sou…
O desejo que nos anima é o de fixar, segurar pela palavra o que entrevemos e se nos furta. Julgamos às vezes que o atingimos, mas logo se sabe que não. Miragem perene de uma presença luminosa, de um absoluto de estarmos inundados dessa evidência, encantamento que nos deslumbra no instante e nesse instante se dissolve.
O que me arrasta nesta luta sem fim é o aceno de uma plenitude de ser, a integração perfeita do que sou no milagre que me entre(luz), a transfiguração de mim e do mundo e o mundo do que sei que passa…sem que mesmo as palavras segurem…

amor dois

o amor é uma cobra que se come
rabo à rabo
do cú ao cone

o amor é uma cobra que se come
desequilibrado dedo
dispara ciclone

o amor é uma obra que consome

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011