sexta-feira, 27 de novembro de 2015

bardos poetas 6

vozes abrem assombros nos caminhos
em que os passos que me seguem
são passos fincados
com ervas de fogo solar
nas raízes até onde as aves vão

no sono que bocejo
nos olhos que desejo
no beijo, sonhos em lampejos
entupimos de nojo tanta poesia
essa é a religião a que não me converto
- o pano de cima - de fundo
do centro
aqueles passos lentos que viraram lenda
decifram a encomenda rumo ao tesão
- letras dançam despudores na língua -
estou toda céu e quantas vezes assim
sou grande e diminuta
transformando em cor o sonho
em preto e branco

os olhos são guilhotinas
a letal fera das horas em eras
ironias vertidas
tecendo comentários, exterminando
as moscas da decepção
e na recepção o cumprimento
das aranhas trabalhadoras

o que dizes é pedra
moendo-se na boca e na secura das paredes
subindo à dor e aos versos
Maldoror chutando o balde
maldizendo a rua do arrabalde
em cada porta - nem sempre uma morada
mas com sua embriaguês e tantos bibelôs
lá dentro, à prumo
o estrangeiro em mim
segue o destino do clã
rendilham-se as conversas
sem centro, poço ou profundidade
nunca é tarde para entender
que à tarde compreenderei
tua roupa de leopardo
teus olhos de quem dá o lance
e amanhã todos os lúmens

dançando dentro dos olhos
- sou índia - pinto-me de espanto
faço um canto moreno à lua
e cheiro onde a vida parou naqueles passos
naquela paragem por onde passaram
caras e corujas, pois
domingo deus descansa
e cega-nos de ver
tanto
dentro da luz

domingo, 1 de novembro de 2015

fragmentos étnicos

nunca tive uma iracema
ao contrário
fui possuído por uma ira
digo, várias
que me deixaram vermelho
bruto empedrado
diria até hulk
irado
esverdeado
triste
e com o pisca ligado...
cuidado


alguém por favor
avise aos estados unidos da américa que se eles matarem todos
não vai sobrar ninguém para chama-los de tolos


rastreados seguem-se os passos
invisíveis que fazem
barulhos de passos
ninjas de ninguém


dos japoneses
acolhemos os nossos
agora os temos na liberdade
de fazer poesia curta


sinto inveja dos uruguaios
pelo campeonato que eles nos ganharam
pelo jantar que eles não tiveram
pelo mujica e galeano
que nós não temos

sinto inveja dos argentinos
pela macaquice que eles nos acusam
pelo che
pelo maradona
que nunca foi melhor que pelé
mas que fora do campo é
pelo papa que ama futebol
pelo boca juniors
que perdeu para o corinthians


eles dizem dióspiro
nós dizemos caqui
eles dizem tangerina
nós dizemos mixirica
eles dizem trás os montes
nós dizemos tragam tudo
eles dizem para eles
nós dizemos para todos
eles dizem tu
nós dizemos você


não são mais juntos
(ai que saudades da minha vida)
noves fora: assuntos


que o tigre dos meus sonhos
não esteja dormindo
quiçá saciado
brincando de gatinho
pela selva...
felindo!

Dimi Éter (rosto)

maria andersen (fala-te boca)