sexta-feira, 19 de abril de 2013

partida - maria andersen

“ um epitáfio é sempre uma flor ”
e os dedos uma esferográfica espetada no coração
onde cresce o poema
assim me habituei às manhãs sem idade
às ruivas solidões de tantas dias 
à boca a procurar o norte numa viagem que nunca termina
e onde nenhum olhar de tinta iridescente pressagia
o destino deste corpo
em nós atravessa-nos sempre o mesmo deserto
esse nômade bater do peito
- assim que o amor não me cegue nem me siga
porque o amor quando nos vê
só nos vê de partida

joyceano

safábado
passado
dormingo
de sebunda
à quinta
nos infernos
da sexta dimensão
da feira

constelações - zé mateus

meu corpo traz constelações de cicatrízes
que atravessam o planeta
e terminam no meu corpo

terça-feira, 2 de abril de 2013

simiolândia - sandor weores

Na distante Simiolândia,
o pão brota e o vento bate
ritmos símios nas janelas
símias, entre símias grades.

Heróis símios lutam, prado
símio e praça símia a fora;
numa clínica primata,
muito símio enfermo chora.

Mestre símio ensina à aluna
símia o símio abecedário,
cela símia range aos chutes
de algum símio salafrário.

O moinho,  obra-primata,
produz semolina símia;
assomando ao cimo, o exímio
raciossímio está por cima.

O rei-mono, sobre um poste,
já promete, em primatês,
símio céu a quem faz bem,
símio inferno a quem não fez.

Chimpanzé, gorila, mico,
babuíno e orangotango,
todos lêem, o Símio-News
logo após o símio rango.

Recordando o rango símio,
soam símias as descargas,
símios marcham para a esquerda,
pra direita e montam guarda.

Símios-rasos fecham suas
caras símias, iracundas;
arma símia em punho símio;
símios dominam o mundo.

* tradução > Nelson Ascher