escrever para os que entendem tudo,
acumpliciando-se do escritor, e são complascentes;
escrever para os ultracríticos, que contestam desde a grafia até a exatidão das referências;
escrever para os que lêem poesia como quem lê jornal: distraidamente;
escrever para os que procuram na poesia consolo para seus fracassos amorosos;
escrever para os que buscam ilustrar com poesia a torrente da paixão;
escrever para os geômetras do entendimento, para os quais as tensões internas do poema são como uma flor secreta;
escrever para os que não entendem nada;
escrever para os que são cegos;
escrever para não ser entendido, ser ridicularizado e ultrajado nos suplementos;
escrever como quem conta uma pequena mentira, e embute na mentira uma grande verdade;
escrever também para os atores que perderam o texto, e podem iluminar o espetáculo com um poema improvisado;
escrever para poder morrer em paz.
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