quinta-feira, 16 de junho de 2011

dois - maria andersen


Uma boca que quer outra boca
Uma fome que clama outra fome
Uma mão que chama outra mão
& o corpo que se ateia noutro corpo
nesse vigor que agoniza
nesses ecos -
um gesto que pede outro gesto
um olhar que penetra outro olhar
pelas paredes da terra
o pensamento que gera sensações
herdeiras de sussurros & de estrelas
& aves aves aves a nascer nos poros
& o silêncio dos astros
a densa neblina das vozes
& o vazio & o cheio de nós
do ar do tacto do corpo
do sexo noutro sexo
nessa lenta descida da sede
& as águas intimas que caiem sem tempo
nesse deserto rigoroso & humano
que chora que canta que dança
que se abre em vertentes
nas gargantas agrestes de gritos

ah plenitude animal toda no interior de uma boca
& no olhar um imenso orvalho puro

* Dois
que significa em nós a união entre a essência e matéria
por isso significa plenitude!
A eterna e dual duplicidade e cumplicidade de tudo em tudo
Um que não existe sem o outro
a árvore e sua sombra
a lua e o sol
a noite e o dia
a água e a terra
o fogo e o ar
a macho e a fêmea
a alegria e a tristeza
a dor a felicidade
a ausência e a presença
a luz e a escuridão
se não fosses serem dois como saberíamos do um?
Que significado teria a alegria sem a tristeza? O como entenderíamos a tristeza? E a ausência sem saber o que é a presença?
Um é o sentido absoluto do outro que faz dois.

Um comentário:

  1. esta mulher não existe, isto é um comentário publicado no poema DOIS que postei aqui...dizem que ela existe e ela também insiste em afirmar...eu ainda não vi...quem viver verá...sou seu sudito...ouço, falo e entendo a linda e lírica língua dela...é um anjo de mulher!

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