terça-feira, 14 de junho de 2011

aos pariceiros dos anos 80 - valmir jordão


 
  Eu vi os expoentes da minha geração consumindo muito alcool, na  Hospício em busca da loucura,
  chapando insistentemente no Beco da Fome para recitar na Sete de Setembro contra o auto otarismo
  e o autoritarismo em voga,

  andando pelas  ruas da Boa Vista feito zumbis bêbados, ansiando fumar um nos miseráveis apartamentos
  sem água e sem luz, flutuando sobre os tetos da cidade contemplando junkies que desnudaram seus
  cérebros ao céu e, viram  o CCC com as mãos sujas do sangue do Pe. Henrique,
 
  cansados dos acadêmicos sem brilho, dissecando as almas dos poetas malditos, com toda a mediocridade
  e  arrogância dos  que tentam apropiar-se do alheio,

  enquanto  Gregório de Matos, William Blake e  Patativa do Assaré  reluzem em outras dimensões,
  erámos detidos e baculejados pela polícia suspeitos de vagabundagem e subversão,

  e  vi a juventude mergulhada nas drogas alopáticas, uns dependentes do Algafan, outros no éter e
  no Pambenyl e mais alguns usando Cocaína ou Fiorinal para encontrar o seu própio paraíso artificial,

  presenciei o bardo Alberto da Cunha Melo a combater o regime de excessão na estrada do excesso,
  pois todo gênio que se preza, busca a sua garrafa, enquanto boa parte da sua geração camuflava-se
  na aura da vaidade literária,

  Erickson Luna com sua auto-flagelação nas drogas, no alcool e na anorexia das  noites insones no
  Cais de Santa Rita ou em Santo Amaro das Salinas, armado de copo na mão com aparência a esganar
  o mundo e todo mundo, a dizer que a felicidade é apenas um golpe publicitário,

  Espinhara espinhando as relações com o seu jeito espinhoso de ser, Lautreamont, Augusto dos Anjos,
  Jean Genet  e  Chico Buarque foi o seu quarteto mais que fantático, fora de si, tentou afogar-se na lama
  mas a Buarque de Macedo rejeitou esta atitude, semeava o Lítero e colhia pessimismo com o seu mau humor
  e machismo digno de um Bukovisk e, foi o poeta da flor e do espinho,

  O comportamental França nos seus recitais notívagos e sedutores, a atrair burguesas branquelas com a sua
  fala  e o seu falo de ébano, a repetir quem quer querelas?

  O deseducador cultural  Jomard Muniz de Brito evocando Glauber e o Tropicalismo nordestinado contra a caretice
  nos meios e nas mansardas recifenses, a quebrar tabus sendo eternamente Pagú e Papangu nos canaviais e carnavais
  da Mauricéia travada pela burrice, mil vivas ao mau velhinho!

  Fred Caminha  nas pensões e manicômios, nos Coelhos e no Bairro do Recife ou na Palma em busca de uma
  puta , uma carreira ou uma bola para rolar na Conde da Boa Vista, Príncipe ou Manoel Borba,

  Jorge Lopes tatuando na própia alma seus desejos de sexo, drogas & rock and roll, da Caxangá a Riachuelo
  na sua batalha diária contra a fome de viver, para não torna-se uma garatuja de si própio,

  Vi Cida Pedrosa, Lara, Samuca, Miró e os Cavaleiros da Epifania a calvagar na Ilusão de Ética e na resenha
  Interpoética sempre Amarginal,
  Hector Pellizzi, Juhareiz Correya, Fátima Ferreira, Wilson Veira, Joca de Oliveira e Humberto Felipe ecoando
  poemas no Savoy, no Calabouço,e na Livro 7 mostrando o quanto a América estava indignada,

  e todos se reergueram no passo libertário do Frevo e na síncope do Maracatu e na batida literalmente do Côco,
  provaram o vinho avinagrado dos tempos difíceis, mas mesmo assim deixando o que houve para ser dito no tempo
  após  a morte ...

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