Eu vi os expoentes da minha geração consumindo muito alcool, na Hospício em busca da loucura,
chapando insistentemente no Beco da Fome para recitar na Sete de Setembro contra o auto otarismo
e o autoritarismo em voga,
andando pelas ruas da Boa Vista feito zumbis bêbados, ansiando fumar um nos miseráveis apartamentos
sem água e sem luz, flutuando sobre os tetos da cidade contemplando junkies que desnudaram seus
cérebros ao céu e, viram o CCC com as mãos sujas do sangue do Pe. Henrique,
cansados dos acadêmicos sem brilho, dissecando as almas dos poetas malditos, com toda a mediocridade
e arrogância dos que tentam apropiar-se do alheio,
enquanto Gregório de Matos, William Blake e Patativa do Assaré reluzem em outras dimensões,
erámos detidos e baculejados pela polícia suspeitos de vagabundagem e subversão,
e vi a juventude mergulhada nas drogas alopáticas, uns dependentes do Algafan, outros no éter e
no Pambenyl e mais alguns usando Cocaína ou Fiorinal para encontrar o seu própio paraíso artificial,
presenciei o bardo Alberto da Cunha Melo a combater o regime de excessão na estrada do excesso,
pois todo gênio que se preza, busca a sua garrafa, enquanto boa parte da sua geração camuflava-se
na aura da vaidade literária,
Erickson Luna com sua auto-flagelação nas drogas, no alcool e na anorexia das noites insones no
Cais de Santa Rita ou em Santo Amaro das Salinas, armado de copo na mão com aparência a esganar
o mundo e todo mundo, a dizer que a felicidade é apenas um golpe publicitário,
Espinhara espinhando as relações com o seu jeito espinhoso de ser, Lautreamont, Augusto dos Anjos,
Jean Genet e Chico Buarque foi o seu quarteto mais que fantático, fora de si, tentou afogar-se na lama
mas a Buarque de Macedo rejeitou esta atitude, semeava o Lítero e colhia pessimismo com o seu mau humor
e machismo digno de um Bukovisk e, foi o poeta da flor e do espinho,
O comportamental França nos seus recitais notívagos e sedutores, a atrair burguesas branquelas com a sua
fala e o seu falo de ébano, a repetir quem quer querelas?
O deseducador cultural Jomard Muniz de Brito evocando Glauber e o Tropicalismo nordestinado contra a caretice
nos meios e nas mansardas recifenses, a quebrar tabus sendo eternamente Pagú e Papangu nos canaviais e carnavais
da Mauricéia travada pela burrice, mil vivas ao mau velhinho!
Fred Caminha nas pensões e manicômios, nos Coelhos e no Bairro do Recife ou na Palma em busca de uma
puta , uma carreira ou uma bola para rolar na Conde da Boa Vista, Príncipe ou Manoel Borba,
Jorge Lopes tatuando na própia alma seus desejos de sexo, drogas & rock and roll, da Caxangá a Riachuelo
na sua batalha diária contra a fome de viver, para não torna-se uma garatuja de si própio,
Vi Cida Pedrosa, Lara, Samuca, Miró e os Cavaleiros da Epifania a calvagar na Ilusão de Ética e na resenha
Interpoética sempre Amarginal,
Hector Pellizzi, Juhareiz Correya, Fátima Ferreira, Wilson Veira, Joca de Oliveira e Humberto Felipe ecoando
poemas no Savoy, no Calabouço,e na Livro 7 mostrando o quanto a América estava indignada,
e todos se reergueram no passo libertário do Frevo e na síncope do Maracatu e na batida literalmente do Côco,
provaram o vinho avinagrado dos tempos difíceis, mas mesmo assim deixando o que houve para ser dito no tempo
após a morte ...
Maravilhosa saga recifense desse grande poeta brasileiro...Uivo neles!
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