segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

naftalina - claudia freire

Baratas me esperam chegar, fugidias
Cruéis , degeneradas, asquerosas, fingidas
Vadias, exclamam em uníssono: “Não és mais bem-vinda!”
Avisam que na casa não há mais ar, nem cor, nem vida
Admito que sou ré, vilã e bandida
Que não vejo entre dois nem ida e nem vinda
Que vejo, um a um, uma triste partida
No sol e no mar, solidão me tem combalida
À noite recosto em um travesseiro de pedra
Relaxo num banho de água saloba
Fervo um chá de lama e joio
O dia apavora, a madrugada enquadra
A bela praia da infância, hoje areia movediça
O velho sonho de menina, hoje memória desativada
A ilustração do conto de fadas, hoje rascunho mal-fadado
Babo, a língua enrola, língua esta outrora castiça
Odeio o amor, sua palidez ardilosa
Sou unha sem carne, um naco de torpor
Quando finda poesia e prosa
Realizo no fim que tudo é dor, dor e dor

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