divide-se o sol - o olhar
- a luz
divide-se a voz - o
grito - o tempo
divide-se a vida - o corpo - a fome
dividem-se os cigarros - os pulmões - a música
divide-se a espera - as flores - a saudade
divide-se o caminho - o peso
- a escravidão
o poema - o riso - a ambição
tudo quanto buscamos –
dividem-se as cores - as palavras - a calma
dividem-se as greves - os genes - a ciência
divide-se a água - o
ouro - a rua
e tudo em que nos
contemos
vem
entra no meu abraço e come maçãs - aqui
a terra é abundante
e eu componho entre os corpos partituras
tens os olhos cobertos de ternura -
flechas como velas desamparadas
como o cansaço dos
vitrais
e há dias em que o silêncio é como uma fuga de Bach
um manuscrito de amor
- tão rente aos olhos
estou aqui a jusante do coração
onde se soletra letra a letra o último poema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário