sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

bate-papo

as madrugadas proletárias
 comeram todo aquele sonho
 sobrando apenas fumaça e café
 além de um bate-papo que dispõe
entre a cabeça e o dedão do pé

as madrugadas boêmias
comeram todo aquele sono
sobrou apenas ressaca e camembert
aquém de um bate-papo distante
entre essa cabeça e uma outra qualquer

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

voam no asfalto


os anos caminham na rua
os peixes voam no aquário azul
as águas derramam no asfalto
os cacos caminham anos-luz
na rua vão os peixes azuis
no asfalto as águas voam
o aquário derrama o céu

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

ignoração - maria andersen





de repente o rosto é uma ignoração
um escravo absurdo do tempo com olhos cavos
portas lentas no repouso - recriando-me
canto todos os sóis condenados às horas  sonolentas
brilha-me a impoluta virgem 
a tia com visões onde se cerram sonhos
na cama prematura - irreparáveis palavras 
na mão com que as escrevo tudo me tarda
e choca-me a interrupção 
as horas  diurnas e nocturnas tão selvagens
- a eternidade por vezes tem a sua razão
a fé onde se violenta o tédio grego
- às coisas intelectuais  da solidão
pergunto-me -
tenho em mim todos os vícios?
sou o objecto do momento com cegueira ? 
onde me sofrem as virtudes ?
converto-me à singularidade 
de mendigar palavras ?
a alma é como um apeadeiro
abrevio todas as fugas 
e estou aqui 
sobriamente desacompanhada 
e o barulho a fazer vale nos ouvidos

toda a noticias -
é um labirinto


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

bruxos

poetas brochas
não abrem brechas
poetas bruxos
não apagam tochas

silêncio


silêncio
gritou o monge
e fez-se um monte
...
de silêncio em silêncio
fez-se um grito
de um monte de monges

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

calendário

agosto para
janeiro fevereiro e março
em abril: maio

junior e júlio
em setembro
ou tudo é novembro
mas pode ser 
dezembro

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

liliths

foto guido argentini
o centro do mundo nos seus seios
tirando-nos do labirinto
 
a que põe a mão no sol
em árvore disfarçada
aqui está o desejo
 
olhando o jardim das delícias
é a arte de andar nua
e quando o feminino voa
aqui se nasce
 
ser ou não ser as amazonas que libertam?
 
irradiando mensagens, entre a procura da fera
e a que veio morar
 
banhando-se de vida
com a força e a calma de ser anjo
 
no amor recebido no lugar de comer
sonhando com dioniso