quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

sem virgens - maria andersen


plagio a vida e a voz

não a tua a minha

ergo-me entre os imbecis

e divinizo-me pecado

ex-libris

-satanizo-me tara na vara de moisés-

e o castigo das pragas

é-me riso nos dentes

inferno no lume nas palavras

onde sou ardente niágara – dos sexos escancarados

e sou pan – e demónio enfermiço da vossa gula

-sou génio de zaratustra em maré alta-

raiva de medusa e danação da luz

-ladram-me a vida por vivê-la

e só me deram uma

hão-de latila por sina –

que agora eu quero vivê-la

hei-de eu cantá-la – em gala

hei-de em glória - aliviá-la

hei-de em guindaste – içá-la

hei-de em trovão – fazê-la luz

e dá-la à noite no jardim

hei-de em bombos – rufá-la

nos funerais de vós

hei-de alforge - mahoma

cantar sodoma na minha voz
hei-de ser deusa sem virgens

hei-de ser ópio - ser átila - ser reis - ser eu

hei-de ser trono nas vossas iras

boca no tempo de eu ser sina

onde ouço vencidos os gritos dos fracos

eis aqui numa voz antiga

sou casa – sou asa – sou inocente

sou relíquia de mártir impotente e sequestrada

sou clausura possessa – mulher exilada

hóstia de amor e angustia no claustro

madre – génio - poema – donzela

virtude sozinha na sela em penitência de sexo

sou rastro que cruza o meu sangue

sou raiva bastarda e condenada

pederastia à beira do limbo – o traço – a fasquia

as pernas abertas e nuas da minha alma sem baptismo

ah eu sinto claramente que nasci

nasci de ti ó homem

que és nascente de força e descoberta

tu que inventaste todos os quebras cabeças e outros dramas

o sebo e o petróleo

por isso hei-de gastar a garganta a proclamar-te

hei-de morder-te a boca

e com afecto pôr-te no lugar

nós saltimbancos

de bandos contrabandistas
nós aqui desterrados

vivemos aqui a vida gémea de ser feliz

horas sem biografia

oh papiro e pergaminho debruçados sobre o tempo

a estorvar o caminho e a mala feita

e vós ó gente de toda a parte

ó génios sem voz

ó além tempo sem regresso

ó espectadores gratuitos

sim - vós mesmos

profetas clandestinos a naufragares a vida

que fazeis cócegas e outras coisas à opinião do povo

largai tudo e ide para o útero

e nascei de novo

e não queirais ser outros - nem inteligentes

que a inteligência é o meu cancro

eu sinto-a por dentro como uma cruz

deixa-te ser só fome e sede

come a terra - o ar - o céu

bebe o fogo e o mar

e dá-te todo à natureza

ah eu sinto claramente que nasci

para te beber os olhos e o destino

e juntos sermos brasa e natureza

que eu sinto de ti ser o amor

como de mim eu sinto tu seres-me inteira

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