quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

língua - maria andersen

estou aqui

espreito a lâmpada ensolarada

até que o lugar seja eu tu e a saudade

e este humaníssimo cheiro de raça -

homem pedindo eternidade e uma flauta

olhos maduros sentindo o gosto

carência em que te quero –nesta hora que me desbasta

enredo e trama – tão perto da chama

e eu calada dentro da janela

a rua sem gente

e o mel – sino do coração

tudo o que não digo sou – beijo dobrando os ombros – a nossa fé

amo-te “ como toda a vida quis e não sabia”

os dias como silvas bravas levando letras aos cotovelos

e meus lábios nos teus selando borboletas

- noite - perto - quente

cabelo

copo dando-nos a beber tanto amor

virgulas gerando rosas

porta - rosto - letra - nós

vagando o quarto - as paredes brancas – a noite sensível

louco - louca - loucamente asas comendo fogo e cerejas

noite buscando o sol e a nossa lírica - amor gritando terra)(motos-

ismos tornando-se corpos

lua tornando-se risos presos

liturgia sublime da nossa idade

às nossas línguas deslumbradas

vestindo campos de riso com todas as faces da lua

poderei dizer-te que tudo me escapa e que eu escapo à tristeza

sou em tuas mãos “ madeira e cordas”

vida - nudez - fome

poema - ética - nome

desejo de sexo e longe vergando-se em nós

luzimos amor – esta rara medida da tarde e do corpo fazendo música

tocando lume nos cotovelos

os silêncios entrando para dentro

até serem gemidos de poetas se amando no chão - na lareira - no vinho - no amor

- ladeira da alma

corpo santo onde somos secretos anjos em pleno voo

posso dizer-te : “ agora o meu corpo sofre e dói”

a lucidez é jeito de amor movendo-se na cama

figueira leitando-se da raiz ao fruto atravessando-nos a vida

gosto - tacto - odor

corpo - claustro - tarde com sua ânsia contra nós e a parede

entre as pernas eu desembaraço os nós e a alma

sou diurna –

ouve os meus versos agora

santidade de palavras sem religião

onde só tu me admites e me entendes

fazendo língua em meus mamilos

e no centro proveitos profundos

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