serpentes

andam as serpentes deitadas

errado és tu

que perdeu teu sono

por elas

qual walt?

a maioria prefere

walt disney

mas a melhor diversão é

walt whitman

templos e temporais

deus não sabe ler relógios

quando o sábado te saboreia

você é um domingo dormindo

por um momento

sem monumento

um documento

no firmamento

quem não tem tempo

frequenta templos

e temporais

segredo revelado

na ponta da língua

aquele pensamento

que não se sabe ainda

na ponta do lápis

aquela palavra

escrita no ápice

na ponta dos dedos

aquela música

que se faz em segredo

caímos na real

hoje uma pessoa

caiu no tropeço

ninguém riu

acho que caímos na real

quando sócrates disse não

quando sócrates disse não

caetano disse é lindo

a áfrica disse mandela

joel santana disse tupy or not tupy

simone de beauvoir disse tudo

para sartre que disse com os olhos

para fernando pessoa que disse com os outros

jah disse bob marley

just like bob dylan

os stones com a língua

eureka disse arquimedes

ó pai saiu da boca de jesus

nietzsche que deus está morto

platão só nos diálogos

os beatles disseram help

luther king que tem um sonho

lennon que o sonho acabou

o cinema mudo nada

gandhi no-violence

punks no-future

marx disse uni-vos

os trabalhadores disseram greve

a mídia diz que são todos terroristas

alá diz que são apenas muçulmanos

a igreja diz que é pecado

os bancos dizem juros
wikileaks diz para todo mundo

a polícia diz com as armas

os mortos não dizem coisa alguma

alguns dizem que os ouvem

os índios dizem que a terra é deles

e que vão chorar um amazonas

dizem

quando sócrates disser que nada sabe

darwin dirá que é evolução

freud que tudo é sexo

e demócrito dirá que sabe

que tudo é um

descrença

por um momento

acredito na suspensão da descrença

e aquele coelho

usa cartola

roupa

aquela roupa já foi flor

hoje ela é florida

teorema

palavra sem assunto

discurso de defunto

*

sábado sem alma

é domingo de trauma

*

não vou dormir no seu barulho

mas farei o meu com teu entulho

*

no dia do juízo final passo lá para te ver

serei aquele turista tirando fotos

*

teorema do erro para você resolver:

emular os vitoriosos é não querer que a brodagem vença?

fica assim

vão-se os ledos

ficam os medos

números/cifras/consumo

perdendo nossas vidas

para ganhar a vida

perdendo tempo

para ganhar tempo

oh querida trindade

igualdade/fraternidade/liberdade

estás escondida na santíssima?

estás no tridente

daquele que trouxe a luz?

ou os trilhões

dos poucos donos do mercado

te transformaram em menos três

números/cifras/consumo?

delícia

no início era o verbo
depois do início o verso
depois vice-e-versa
sobre as delícias delicadas

pôrra

dia sim dia não

bate uma alegria

da pôrra

dia não dia sim

a pôrra da alegria

destoa

pedra

quando pedra é mão

é

quando mão na pedra

é

quando atira a mão

pulmão

a cigarra

estoura o pulmão

mas não foi

o cigarro

raiva

agora

cachorro come cachorro

vira-lata

vira cão de caça

e morde

cão de raça

com muita

raiva

beira

na beira do sofrimento

escorrego

ao invés de cair

nego

o tombo e a dor

do sorriso

do ego

dançando

é um corpo africano dançando com pernas latinas

ouvindo uma música com orelhas européias

vendo tudo com olhos asiáticos

num lamento do meio-oriente

o que pode cantar uma boca americana

e sentir um profundo coração humano

lápis

tem sempre

que haver um lápis

por perto

por certo

tem sempre

que haver um perto

do lápis

acredito

sou

à teus

...

só acredito

no que

deu

ervas

rosas não

traz as ervas

que são

mais liliths

e 

charmosas

dopaminas

*

o dia nunca desce

o dia vem

mas

a noite

desce e vem

*

todo mundo

até parece

tudo mudo

*

toda muda

até parece

tua miúda

*

foi um tombo

daqueles de bunda

em que nágua não afunda

*

cadê você que viajou

sem pára-quedas

sem passaporte

e que na lâmina

admira o corte?

*

quem alma

tem

tensa

tenta

ir com calma

*

quem na veia

o sangue corre

tem

o mesmo medo de barata

*

jogar pedras no rio

para assistir o salto

*

jogar futebol

só para fazer gol

*

jogar no gol

só para assistir

o jogo

*

sempre que a conversa

é interrompida

não adianta botar culpa

na dopamina

cabeça

força na peruca

para quem tem

sua cabeça educa

outros

teu outro eu

que te fala

ganhou a batalha

meu outro seu

que te espalha

levantou a saia

meia-hora

perdi meia-hora

avisem-na

digam-lhe

que tenho mais meia-hora

para numa hora dessas

passarmos

um tempo juntos

copyright

jogar conversa fora

com os amigos

deixar que a palavra

dê

um pé na bunda

do copyright

offshora

quem não offshora não mama:

egocentrismo individual

ou

sociocentrismo coletivo?

lida

colocamos mel nesta língua

a cantamos muito bem ainda

mesmo que a tal lida

não seja linda

somos quem faz do amargo

o doce da vida

trôco

tome nota

fique com o trôco

falou

homem

diz que hoje conversou com Deus

e

só

ele

falou

alma

foi quando

tua alma

bateu

na 

minha

mão

a

calma

quer dizer

dizer quereres

querer dizeres

quer dizer

dizer o quê?

robalo

diz 

o robalo:

é mar

vou

ocupá-lo

rua

ela se sente donazinha da rua

já até mandou asfaltar o próximo

meia-foda-inteira

ela é dez

para as duas 

ou

duas e dez

ele é cinco

para uma

ou

 onze e cinco

e 

querem dar uma

à meia-noite

ou 

meio-dia

nem que seja

uma

meia-foda-inteira

cortes

1

uma vez

não são vezes

só mais uma chance?

sem chance!

2

aqui entre os vivos

os mortos estão mais vivos

3

uma rotulada

na quina da cama

um pé de mesa

que ama teu dedinho

um aquiles

tensionando teu tendão

herói da dor

4

bípedes implumes

com coragem de esperar a morte

em pulsões selvagens

e intolerável intolerância

baseada na teoria da diferença

embriagados de sangue

tornando-se feras

5

os estrangeiros

não correm perigo

apenas peregrinam

6

indo pra puta

que paris

iluminar

a torre

7

quem ouviu o canto da sereia

no discurso daquele homem

no decurso morreu

8

indo pra nova ioga

meditar

a liberdade

9

andando atrás de questões

num jeito

de alcançar as respostas

segunda chance

terça

daí

cai 

morre

enterra na

quarta

ao lado da

quinta

encostada na 

sexta

sem

sábado

domingo

nem

segunda

chance

chuva

quando ela cai no telhado

assim admiro o som da chuva

para ver

prefiro nas poças

que ela faz com os relevos

tenho receio quando vem com raios e trovões

mas encaro numa boa

quando ela é garoa

daquelas que davam em são paulo à toa

tem o chuvisco e tem o orvalho

que considero apenas

um gameta de chuva

respeito as gaivotas

que a anunciam quando ainda está seco

tem aquela que te dá na cara

é uma chuva rara

basta estar sem guarda chuva

tem aquela de granizo

tem chuva de facas

tem chuva de tiros

neste momento me retiro

ela também é tempestade

vendaval e furacão

essas chuvas matam até o cão

tem também os alagados

que embora o poema é para a água que cai

nunca vou me esquecer

desse lado

da chuva

disputa

disputa de cabeças rolando

disputa de cuspe à distância

disputa de bolsas de valores

disputa de punheta entre amigos

disputa de dor mais aguda

disputa de grito mais alto

disputa de arma mais letal

disputa de nacionalidades

disputa de peido mais fedido

desculpa obrigado muito obrigado de nada