tão clássico
o tempo no ventre da terra
& à flor da pele
o tempo um campo
onde só o coração
desce
& fundo sente
os rios interiores
eu
sigo por esse tempo
em que a cintilante candeia alumia a mulher-
ela borda em toalhas de linho
delicadas flores.
os homens esmagam as uvas no lagar
& sobe a sede às suas gargantas
& ao alto da casa
entoam cantigas que o tempo perpetua
seus filhos adormecem ao redor das horas
& sobe por toda a casa
o denso aroma da vida
& ergue-se o tempo e a dança
pelo outro tempo da memória.
o verbo levanta-se ainda quente
como o pão saído do forno -
assim tudo se ganha & tudo se perde;
voltado o rosto para o sul – ainda se pode escutar
a melódica flauta
pela alta tempestade
o tempo
é toda essa braçada de lenha
que paciente atiras ao lume do olhar
as crianças adormecem dentro dos seus olhos
& assim seguem toda a inocência do mundo
o amor perturba a minha alma
& esse conhecimento é como uma sombra
que o céu escurece
não deixam de se comover os meus olhos
sigo o vaga-lume & as flores
(contra as vozes que nos afastam do mundo)
luto corpo a corpo com a solidão
? qual a morada do eterno retorno
não basta o bordão que trazemos na alma
porque muitas são as vozes do mundo
pela luz da candeia.
o caminho é sempre um exílio
& os olhos como águas de Quineret
.
assim o dom nos contempla…
como o vento na copa das árvores
é o som das nossas vidas no seu mistério
o tempo uma seta indecifrável
que morosamente volta o teu rosto para o espelho…
& só a flor é livre
porque nem sabe da soberba da ciência
eu
gasto meus olhos com o sal das lágrimas
& em cada primavera cavo mais fundo
pelo coração do tempo…
eleva assim o olhar até o alto da alma
& desce ao corpo para veres o infinito:
túnicas de seda & bandejas de oiro
ao redor dos séculos – ossos & esquecimento…
só a cidade estremece pelo seu silêncio criador.
a voz dos rios percorre a alma
mundo desconhecido –
? quantos séculos nos separam da de ti
ó peregrina estrela
assim o voo do cisne pela sua eterna beleza.