1
noto que um poeta antigo
fez versos enobrecendo a guerra
a guerra já era o que sempre foi
e o poeta acabou
2
nuvens elétricas
pairam sobre mim
pára-raio ambulante
descarrego tétricas
paisagens dissonantes
3
morando onde o vento dorme
ondas sem acordes
morando onde o tempo pulsa
comendo a faca que do corte
a carne o sangue expulsa
morando onde mora a morte
ascendendo a culpa que é da sorte
4
empresta-me tua sorte faca
dou-te estes dois legumes
o ânimo de tuas lâminas
5
amor com amor
se flagra
6
cigarro mata meu tempo
de espera...
sigo na esperança
7
assistindo dou assistência
e assisto ao gol do meu
coração do time
8
cuidado
com aquela palavra
que machuca
ela não tem culpa
tua boca é a desculpa
9
sorrir ficou devendo
devo sorrir
e fincar os dentes
10
mais do mesmo gesto
mesmo gesto do menos
e mais sangria de alegria
que a ordem em progresso
é um país expresso
dotado, ditado e deitado
no mapa da xícara
11
caso ele não caiba
ele já coube
caso ele não haja
ele já hoje
12
com a palavra a orelha
com a voz o coração
com a fala o olho
o coração diz
o que a orelha escuta
e o olho com a palavra fala
13
invade meu tempo
coração e sono
invade meu sonho
que por ora é consolo
mesmo assim não aceito
teu socorro
14
o igual não é
o desigual é
vida e volta
a vitória da derrota
15
largada...desaparecem
chegada...evaporam
16
longa vida ao fugaz
ao sutil e aos demais
17
invadias as minhas
horas, mente e minutos
invadias meus viadutos
que por ora diminutos
mesmo assim
não aceitam insultos
18
soberba e dinheiro
não irão no teu enterro
19
- onde há paz?
- onde há paz!
20
sem sombra
de dúvidas
o sol queima
sem sobras
a fome
teima
com fogo
fazemos
comida
21
quando aprendemos tudo errado
a cicatriz protagoniza
a cena não fecha
o espetáculo
continua ao vivo
e há dores