vozes abrem assombros nos caminhos
em que os passos que me seguem
são passos fincados
com ervas de fogo solar
nas raízes até onde as aves vão
no sono que bocejo
nos olhos que desejo
no beijo, sonhos em lampejos
entupimos de nojo tanta poesia
essa é a religião a que não me converto
- o pano de cima - de fundo
do centro
aqueles passos lentos que viraram lenda
decifram a encomenda rumo ao tesão
- letras dançam despudores na língua -
estou toda céu e quantas vezes assim
sou grande e diminuta
transformando em cor o sonho
em preto e branco
os olhos são guilhotinas
a letal fera das horas em eras
ironias vertidas
tecendo comentários, exterminando
as moscas da decepção
e na recepção o cumprimento
das aranhas trabalhadoras
o que dizes é pedra
moendo-se na boca e na secura das paredes
subindo à dor e aos versos
Maldoror chutando o balde
maldizendo a rua do arrabalde
em cada porta - nem sempre uma morada
mas com sua embriaguês e tantos bibelôs
lá dentro, à prumo
o estrangeiro em mim
segue o destino do clã
rendilham-se as conversas
sem centro, poço ou profundidade
nunca é tarde para entender
que à tarde compreenderei
tua roupa de leopardo
teus olhos de quem dá o lance
e amanhã todos os lúmens
dançando dentro dos olhos
- sou índia - pinto-me de espanto
faço um canto moreno à lua
e cheiro onde a vida parou naqueles passos
naquela paragem por onde passaram
caras e corujas, pois
domingo deus descansa
e cega-nos de ver
tanto
dentro da luz