terça-feira, 28 de julho de 2015

assombro - maria andersen

escrever é um exercício epistolar e nocturno
a facilidade só vem passado horas
chego à foz muito lentamente – primeiro o sangue
recebo os afluentes – qualquer coisa de
íntimo e de delírio – dizem que a convulsão
para belos pensamentos
pesa a sua beleza – uma porta embaraçada
de uma certa ironia – cabe-me todo o humanismo
o meu ofício é contra todos os bárbaros
in extremis – xadrex – com tática e avidez
e vem – um exército de nomes – uma guerra
comum em intensões – corpo do sistema
renegado – o que digo é sinuoso
e esgrime os olhos diurnos do leitor
podia não ser devastador – mas a minha
vocação é esta e é selvagem
sou sem nenhum mestre uma atenção com
desordens – movimentos na astuta devoração da paisagem
invento todo o contrário
esse manifesto paradoxo dos códigos – desobedeço
a tudo quanto é lei – beijas-me a mão
como uma doutrina técnica
a noite é como um escritório profundo onde
me sento com todos os corpos – ouço vozes
com tanta sacralidade – apontei todo o fogo
a nudez é uma faca apontada para nós
uns olhos mutilados com tanto silêncio
obra levando à mão o nascimento
ofusca-se a boca levitando nos corpos
de van gogh
toda a sátira é dor a adormecer na comida
respiro depois de todas as pestes
sou ardente niágara – metamorfose estabelecendo-se
nas tranças de mulher – podia reclamar
mais austeridade – a palavra não quer mais gramaticalidade
minhas algibeiras gemem por ti toda a indelicadeza social
faminta a fascinação – faculto-te toda minha radicalidade
essa veemência poética fora dos escombros
intrínseco pianista
teus olhos de terror que se amarraram ao meu poema
quero-me faminta e afeiçoada a ti
ir com o teu medo a todo o improgresso
corrompeu-se toda guerra – banal terminação
terror a que chamo tempo
a minha solenidade é um manifesto
uma voz insubmissa – com direito a frontalidade
recolhem os escombros mas não o terror
sou como comedor de pecados a desconstruir toda a sintaxe
perdoem-me todas as sombras
que a própria mão registra – a noite pesa-me
nos olhos com todo esse estrondo
não decoro certezas – tenho idéias luminosas
com tanto assombro

quarta-feira, 22 de julho de 2015

matutando

sou como a vida que vai passando
sou como o vento que vem voando
sou como o pássaro que vai cantando
sou como a luz que vem cegando

sou como a tinta que vai pintando
sou como a mão que vem tateando
sou como o corpo que vai dançando
sou como o olho que vem mirando

sou como a morte e vou adiando
sou como sou e vou suando
sou como o sangue e vou circulando
sou como a sorte que vem tentando

sou como quero e vou andando
sou como a noite que vai sonhando
sou como a água que vem tomando
sou como tudo e vou matutando



quinta-feira, 9 de julho de 2015

o vale do prazer

demorou-se no olhar
debruçou-se no ver
viu o que viu
acendeu o pavio
fez que não viu
mas
ficou-se
com arrepio