estou aqui
espreito a lâmpada ensolarada
até que o lugar seja eu tu e a saudade
e este humaníssimo cheiro de raça -
homem pedindo eternidade e uma flauta
olhos maduros sentindo o gosto
carência em que te quero –nesta hora que me desbasta
enredo e trama – tão perto da chama
e eu calada dentro da janela
a rua sem gente
e o mel – sino do coração
tudo o que não digo sou – beijo dobrando os ombros – a nossa fé
amo-te “ como toda a vida quis e não sabia”
os dias como silvas bravas levando letras aos cotovelos
e meus lábios nos teus selando borboletas
- noite - perto - quente
cabelo
copo dando-nos a beber tanto amor
virgulas gerando rosas
porta - rosto - letra - nós
vagando o quarto - as paredes brancas – a noite sensível
louco - louca - loucamente asas comendo fogo e cerejas
noite buscando o sol e a nossa lírica - amor gritando terra)(motos-
ismos tornando-se corpos
lua tornando-se risos presos
liturgia sublime da nossa idade
às nossas línguas deslumbradas
vestindo campos de riso com todas as faces da lua
poderei dizer-te que tudo me escapa e que eu escapo à tristeza
sou em tuas mãos “ madeira e cordas”
vida - nudez - fome
poema - ética - nome
desejo de sexo e longe vergando-se em nós
luzimos amor – esta rara medida da tarde e do corpo fazendo música
tocando lume nos cotovelos
os silêncios entrando para dentro
até serem gemidos de poetas se amando no chão - na lareira - no vinho - no amor
- ladeira da alma
corpo santo onde somos secretos anjos em pleno voo
posso dizer-te : “ agora o meu corpo sofre e dói”
a lucidez é jeito de amor movendo-se na cama
figueira leitando-se da raiz ao fruto atravessando-nos a vida
gosto - tacto - odor
corpo - claustro - tarde com sua ânsia contra nós e a parede
entre as pernas eu desembaraço os nós e a alma
sou diurna –
ouve os meus versos agora
santidade de palavras sem religião
onde só tu me admites e me entendes
fazendo língua em meus mamilos
e no centro proveitos profundos