olho sobre a mesa o meu blazer vermelho
tudo da tarde se condensa nele
as demoras que me recusei na literatura da voz
tudo me canta ao fundo do vale
onde as aves se sustentam
e uma funda raiz de mim
foi de viagem até ela mesma
a música que escuto mistura-se
com o vinho que ainda te resta na boca
há tantos desencontros de palavras
pedaços de angústias costurados em pachwork
como manta contra o frio
em que tantas vezes me recolho
é outra a minha meta)(física
onde o embargo da garganta
nos aperta o peito e os pulmões
vomitamos dizeres a todo instante
com mea-culpa da vida
filosofamos coisas sem filosofia
estou na inocência de mim
à meia hora da partida
as gaivotas pousam-me nos olhos
a história que olho é romana
na orgia das palavras
o espelho onde te olho parte-se
de canto a canto
aí começa o coração do poema