terça-feira, 31 de julho de 2012

orgasmo

lá nas gonadias
e gametas
com o pensamento
longe
origens do meu
onde
em noites dias
e cometas
que revelam
não escondem
o leite
da picas
e das tetas

sexta-feira, 27 de julho de 2012

chuva pink - claudia freire


Tinge de pink a chuva
Rege com calma os dias
Tece tramas, risos
Mete-se em frios, pijamas
Meias inteiras
Losangos gelados
Quadrados pelados
Aquarela de fuligem.
Guarda-cabeça ampara a chuva
Preserva o penteado
Inunda o pensamento.

Furo o farol rosa-choque
Óleo diesel perfumando o cangote
Maçãs do rosto, ruge
Finda a jornada
Bato o ponto
O tempo urge
Dou seta pro destino
Sigo em sua direção
Tu me aguardas há anos
Eu em águas segundas, turvas
Tu em sóis lunares.

Quando eu enfim estiver
Em falsos venenos mandrágoras
Lilás à própria sorte
A sete palmos da morte
Lembrarei que de vermelho
É que se tingem chuvas.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

quinta-feira, 12 de julho de 2012

falo

falo doce...saliva saciada

orgia das palavras - maria andersen


olho sobre a mesa o meu blazer vermelho
tudo da tarde se condensa nele
as demoras que me recusei na literatura da voz
tudo me canta ao fundo do vale
onde as aves se sustentam
e uma funda raiz de mim
foi de viagem até ela mesma
a música que escuto mistura-se
com o vinho que ainda te resta na boca
há tantos desencontros de palavras
pedaços de angústias costurados em pachwork
como manta contra o frio
em que tantas vezes me recolho

é outra a minha meta)(física
onde o embargo da garganta
nos aperta o peito e os pulmões
vomitamos dizeres a todo instante
com mea-culpa da vida
filosofamos coisas sem filosofia
estou na inocência de mim
à meia hora da partida
as gaivotas pousam-me nos olhos
a história que olho é romana
na orgia das palavras
o espelho onde te olho parte-se
de canto a canto
aí começa o coração do poema

bons dias - carlos emílio faraco

Bom dia aos desajustados, em que Deus testa diariamente uma cruel necessidade de apertar parafusos.
Bom dia aos alegres e sua capacidade de criar cenários que estimulam nossa vertical necessidade de protagonizar a vida.
Bom dia aos chefes que acordam capazes de esquecer o prefixo sub- e mentalmente perfilam pessoas.
Bom dia, meu poeta pensador que pinça palavras com perfeição!
Bom dia aos que fundem conteúdo e continente para tornar-se fontes e ressuscitar a limpidez da água.
Bom dia aos que acordam como plumas, apesar das inevitáveis humanas penas.
Bom dia a todo aquele que ao acordar estende a māo para tocar a outra metade adormecida de sua alma.
Bom dia aos que nāo foram convidados.
 Bom dia aos que acordam e exercitam o pescoço a 90 graus - os fatos nāo estāo na tela; estāo na vida.
Bom dia a quem se olha no epelho e constata: minhas pálpebras nāo sāo cortinas - nada a esconder.
Bom dia a quem acordou com a respiraçāo suave, por pressentir a plumagem da amada em repouso.
Bom dia a quem acordou substituindo um Sol lambido por um sol sustenido. Desses advirá a música.
Bom dia a quem escolheu destruir a simetria dos chinelos à beira da cama para andar passos irregulares.
Bom dia aos que sentiram o cheiro de café quente e respiraram aliviados: "Minha casa está viva!".

quarta-feira, 11 de julho de 2012

pelos olhos

os olhos puros
no duro olhar
a derrubar os muros
pela base
pelos murros
olhai os burros
engrandesce-te
pela base
pelos puros
pelos olhos
urro!

terça-feira, 10 de julho de 2012

dança do universo

no tempo em que deus criou todas as coisas
criou o sol
e o sol nasce e morre e volta a nascer
criou a lua
e a lua nasce e morre e volta a nascer
criou as estrelas
e as estrelas nascem e morrem e voltam a nascer
criou o homem
e o homem nasce e morre e não volta a nascer


POEMA SUDANÊS DE MAGIA - VERSÃO HERBERTO HELDER - FOTO AMÉLIA LEDO

pé serve para
andar acelerar
calçar descansar
pisar
em uvas
chupar
jogar futebol
acariciar
barriga de grávida
casar com a perna
e ter
dedos

quarta-feira, 4 de julho de 2012

olhar / ilhar - carlos emilio faraco

Prefiro olhar o de fora - pitanga, mar, dromedário -
A espiar o de dentro - raiva, gastura, temor.
Porque o de fora se olha
E o de dentro se entrevê.

Os olhos,
Estando de fora,
Não conseguem
Se dobrar
qual folha-seca perfeita,
Onda na rama do mar,
Para fazer do de dentro,
Um de fora de se olhar:
A menos que então se curvem,
Como se fossem anzóis...
Mas nesse caso eles fisgam,
Puxam o de dentro pra fora,
Fazendo virar o de dentro -
Só por ter sido visto
(que difere de entrever) -
Um de fora arregaçado,
Mefisto sem sutileza,
Mero objeto olhado,
Ilhado em cima da mesa.

Dessa forma,
O que é de dentro
Puro sujeito é,
Refratário ao nosso ver.
É coisa de se entrever,
(Como o conceito de mar)
Impermeável à ideia
De ser coisa de se olhar.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

último poema - maria andersen

divide-se o sol - o olhar  -  a luz
divide-se a voz -  o grito -  o tempo
divide-se a vida - o corpo - a fome
dividem-se os cigarros -  os pulmões -  a música
divide-se a espera -  as flores -  a saudade
divide-se o caminho - o peso  - a escravidão
o poema - o riso - a ambição
tudo quanto buscamos –
dividem-se as cores - as palavras - a calma
dividem-se as greves - os genes - a ciência
divide-se a água -  o ouro -  a rua
e tudo em  que nos contemos
vem
entra no meu abraço e come maçãs  -  aqui a terra é abundante
e eu componho entre os corpos partituras
tens os olhos cobertos de ternura  -  flechas como velas desamparadas
 como o cansaço dos vitrais
e há dias em que o silêncio é como uma fuga de Bach
um manuscrito de amor  -  tão rente aos olhos
estou aqui a jusante do coração
onde se soletra letra a letra o último poema.