quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

língua - maria andersen

estou aqui

espreito a lâmpada ensolarada

até que o lugar seja eu tu e a saudade

e este humaníssimo cheiro de raça -

homem pedindo eternidade e uma flauta

olhos maduros sentindo o gosto

carência em que te quero –nesta hora que me desbasta

enredo e trama – tão perto da chama

e eu calada dentro da janela

a rua sem gente

e o mel – sino do coração

tudo o que não digo sou – beijo dobrando os ombros – a nossa fé

amo-te “ como toda a vida quis e não sabia”

os dias como silvas bravas levando letras aos cotovelos

e meus lábios nos teus selando borboletas

- noite - perto - quente

cabelo

copo dando-nos a beber tanto amor

virgulas gerando rosas

porta - rosto - letra - nós

vagando o quarto - as paredes brancas – a noite sensível

louco - louca - loucamente asas comendo fogo e cerejas

noite buscando o sol e a nossa lírica - amor gritando terra)(motos-

ismos tornando-se corpos

lua tornando-se risos presos

liturgia sublime da nossa idade

às nossas línguas deslumbradas

vestindo campos de riso com todas as faces da lua

poderei dizer-te que tudo me escapa e que eu escapo à tristeza

sou em tuas mãos “ madeira e cordas”

vida - nudez - fome

poema - ética - nome

desejo de sexo e longe vergando-se em nós

luzimos amor – esta rara medida da tarde e do corpo fazendo música

tocando lume nos cotovelos

os silêncios entrando para dentro

até serem gemidos de poetas se amando no chão - na lareira - no vinho - no amor

- ladeira da alma

corpo santo onde somos secretos anjos em pleno voo

posso dizer-te : “ agora o meu corpo sofre e dói”

a lucidez é jeito de amor movendo-se na cama

figueira leitando-se da raiz ao fruto atravessando-nos a vida

gosto - tacto - odor

corpo - claustro - tarde com sua ânsia contra nós e a parede

entre as pernas eu desembaraço os nós e a alma

sou diurna –

ouve os meus versos agora

santidade de palavras sem religião

onde só tu me admites e me entendes

fazendo língua em meus mamilos

e no centro proveitos profundos

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

ária

prisma
primária
orgia
originária

história natural - isidro iturat

Iluminó los océanos la célula;
pisó la tierra una pata de anfibio;
comió el reptil reptil, y más reptil.

Mamó, después del hielo, el mamífero;
se enderezó la espina del primate;
vio que era bueno matar el homínido.

Se quemó un árbol, y pensó el hombre.

Gimió al pensar, pues añoró ser célula.

haicais - fátima meireles


árvore ave:

fotossíntese vida

língua poeta



andorinha eu:

repouso ar do bosque

fado do vento



numa só folha

semântica da raiz

corpo e alma



abelha rumo -

ego insecto grito

livre destino



na cobra casa –

menino repetindo

o vidro mole



desfolhamento -

luta dia e pranto

vaga-lume tu



líquen no verso:

pau seco no mundo?

eis a questão – ser



desnaturo ar:

inauguro cágados

epifanias



formiga no sol –

pedra na chuva da mão

tempo da lua



sombra benta nós -

bosque limo cachorro

atrás outono

domingo, 21 de outubro de 2012

jazz poesia - maria andersen


do cálice sei apenas o vinho
apenas a morte
no coração do tempo arando fugas
vou
descortinando eternos
recolhendo piedade
no horto silvestre
à velocidade acólita  da língua
tenho amuletos nas rosas
azeitonas cremadas na margem repentina
onde os meus poemas
não são para serem entendidos
no estame da luz breve
tenho papoilas na navalha
cannabis no vapor matinal
e a minha carne dentro do mar
como narciso
sucumbi na rota do sentido
no ocre do solstício
onde eu sou vertical
com sal na pele e a boca cheia de tempo
e da efémera promessa
falcão no pretexto das conversas
as que principiam com a fuga para lugares
que a razão omite
hora da garantia
onde vacila o último verão
espelho – nácar no corpo
que eu própria ilumino
leva
leva de mim sedimentos e coragem
espasmos e dinheiro
que a poesia sou eu
antes de me procurar nos baixios por onde ando
vales humanos
onde o cotovelo é forma
onde o braço é boca
onde a cabeça é comboio a colidir
faço tratados de paz
simulo conhecimento
decifro coisas que não vês
estou no sítio do desconforto
onde a ironia é pena
onde o salpico é palavra
onde o ser é estigma
onde a insignificância é violeta na lápide
é narciso murcho na jarra da ciência
e o tempo jazz citadino
e nós  cartas de tarot
esquecida na mesa
 - Jazz poesia! -

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

bardos poetas - poema 3

aquilo que te trouxe
aquela que me leva
amoras maduras
índios como corações tangendo gritos
Aquiles ferido no nervo
foi a tenda – tendenciosa
as folhas secas no deslumbre dos barcos
o verde lúdico da estação
a folha em que escrevo – é noite
todavia são elas perigosas
canais de sangue
santificado seja o suor
a febre da dança aqui
Don Quixote nos moinhos
é outra a fórmula
à nascente tenho sede
totens totais
tens a fuga como o fio de Ariadne
a vertigem está à cabeça da literatura
aqui jazem serpentes
parabéns para você
nesta data ferida
tenho pirilampos nos olhos
balagandãs nos dias em que demoras
aquele que brinca de viver
viverá mesmo depois
estou à cabeceira do tempo
nenhuma alma na quebrada
nem anjos na guarda
tenho mais boca no cais dos poemas
dói até os cabelos
raspa os pelos
conjura os poentes
até chorar a nudez
onde sobem os olhos
meu Batman perdeu a capa
perdeu o cinto
fez-se sol enquanto as mulheres deram prantos
atenção
 o nervo tende
as ruas são cinemas mudos
a vida encruzilhada

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

bardos poetas - poema 2

viro-me para dentro
tenho lá tanta origem
subo até anoitecer
a variável velocidade do dia/ noite
noite/ dia veloz varia
é circo meu amor
tudo é circo – os homens não sabem
outro argumento senão fingir 
o que não são
dentro deste tempo a vida urge
e surge o que se é
desceu tarde a noite ao útero
a seara amadureceu
a cigarra canta
toca tua campainha
atende somente o verdadeiro
tenho os pés nus sobre o tempo
cajus à porta da fonte
jacarandás à varanda
tem música o olhar
hardcore nas sombras
tudo nos é caro e raro
e tudo nos é escasso
mamutes tiveram piedade
e desapareceram

terça-feira, 9 de outubro de 2012

bardos poetas - poema um

a fera fede e fere a si
aos seus e aos fidedignos
e se a noite se despir sobre o mar?
quando menos se espera
o choro é fado
rostos                                  tantos rostos
tantos anos
tantos séculos
tantas fontes
caminho por onde olho
as armas não tem planos
guardadas
 são apenas...
tenho pena dos insanos
e das flores         e das ervas
que se abandonam
no âmbar dos teus olhos
passo  por aqui na orla das meninas
guarda somente as sementes
joga fora as daninhas
desço letras tão devagar
como se fossem montanhas
rios nascem nos olhos
se a mente dana
mina o que brota
aqui a noite se faz alma
uma esplanada aberta






domingo, 30 de setembro de 2012

fria serpente - cris biagi

..De caso com o verde
Áfua turva copula
Negro com Solimôes
Remo
Nessa doce solidão
Renasço
Como fria serpente
Nos cascos, teias e pó
Amanso
De pés gelados
Pereço
Diluída na natureza

terça-feira, 25 de setembro de 2012

stones

as pedras ainda respiram
umas criam limbos
outras aquecem

vazio de água
o vaso não é vaso

é apenas um objeto
raso e sem razão

o objetivo da água
é encher

o do vaso
é conter

o do homem
é se molhar

...

sem planos a ave canta

a flor embeleza a planta

a pedra esquece a idade

o homem constrói cidades

e a erosão destrói






segunda-feira, 24 de setembro de 2012

a bela língua que nos une

    

Mas, que raios são estes e o que falam?
Provavelmente foi o que pensaram os primeiros portugueses que aportaram no Brasil. O que deve ter causado muito espanto, afora, os índios andarem nus, deve ter sido a confusão babélica. Sim, porque era uma babel de línguas este Brasil. Naquele tempo, falavam-se mais de mil línguas neste território que hoje difunde mais que Portugal, o idioma pátrio.
Passaram-se mais de 3 séculos, para que os portugueses que aqui vinham, decifrassem a principal das línguas, o tupi; neste quesito os jesuítas foram fundamentais, pois foram eles, com base na gramática portuguesa, a organizar e entender esta língua.
Nos primeiros tempos, não havia uma única língua a ser falada, eram várias e nesta babel, vai se criando a “última flor de lácio”, a língua portuguesa falada no Brasil. Naquela época, a esta união de línguas e principalmente com a chegada dos negros escravos, a sua denominação era: língua brasílica.
A língua de Camões, doce e meiga como definiu Cervantes, só vai ser realmente falada em todo o território brasileiro, a partir dos anos 1800 com a chegada da corte de Dom João VI ao Brasil. É sabido que em 1758, por decreto, o Marquês de Pombal, institui que seja falado o português em todo o território, mas as línguas não se dão por decreto e sim por aproximação e costume.
O mérito dos portugueses está no fato de que, para o bem ou para o mal, ter fixado a língua num território infinitamente maior que Portugal, quase um continente. Um lugar em que no tempo da colonização passaram por lá holandeses, franceses, ingleses e espanhóis. Na América Latina, só os brasileiros não falam o espanhol. Há também que se destacar que as línguas indígenas e africanas foram se moldando e moldaram o português falado aqui. Hoje em dia, graças principalmente ao português falado no Brasil, ela é 5ª língua mais falada no mundo.
E os brasileiros, mesmo num falar mais lento e nasalado, diferente do português europeu, mas extremamente parecido na ortografia, ainda tem contribuições a dar à língua, pois vai moldando a ela neologismos dos tempos contemporâneos, como expressões francesas, inglesas, espanholas e italianas, enriquecendo ainda mais a gama de seu vocabulário. Também contribui o Brasil para a língua, através de sua literatura pós modernismo e principalmente com a música brasileira que a cada década se difunde ainda mais no mundo globalizado.
Vale lembrar , que fora o português, ainda existem no Brasil, mais de 180 línguas, faladas pelas comunidades indígenas resistentes, que além de manterem suas línguas, decifraram o português, pois a língua portuguesa no Brasil, é motivo de união nacional.

domingo, 23 de setembro de 2012

vinho vi e venci


tomo vinho
e o rumo
da vida

tomo tento
mas já ganhei
de goleada

uns dizem que
não se toma
se bebe

digo que tomo
e bebo e fumo
uns

tomo 1:
se liga
na tomada

tomo 2:
desliga
da tomada

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

prova

sobra eros
faltam euros
os erros também contam
na prova dos love

pucritude

aquecer
cozinhar
instrumentalizar

o atrito é fogo
oferecemos
as pedras da sensibilidade:

tom
permanência
pucritude

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

pleonásmico - leonard almeida


ainda vou entrar pra dentro
do seu quarto bagunçado
trancar sua porta
trancar suas pernas a mim
e jogar a chave fora

só deixar sair pra fora
as saudades, as vontades, as verdades
escondidas no seu criado-mudo
mais íntimo e depravado

o resto vou fechar tudo
pra gente gritar alto e calar mudo
loucos da cabeça
até o espelho ficar cego
e o corpo ficar surdo

depois subir pra cima das paredes
e do teto feito aranha
te observar dormindo
como a indefesa presa ao relento
e preparar a teia pro próximo bote

e pro seu bote voltar nadando
na água salgada do seu corpo mar
que doce se torna no leito desfeito
ao descer a descida da ladeira até a lombar
com lambidas nas ancas largas e pérfidas
sambar e cantar nas curvas e vielas
das áreas mais boêmias e periféricas
até a apoteose do recôndito ventre

e então entrar na chuva pra se molhar
e até me queimar no fogo fátuo
da fogueira faceira do seu olhar
de júbilo e regozijo
inocentemente indecentes olhos
que olham o nada e o infinito



sexta-feira, 31 de agosto de 2012

vento

quero vento ver
a saia levantada
quero dentro ler
as pernas desnudadas

..

trago
um bom vinho de sentimentos
e o trago
da lata
nos pensamentos



quinta-feira, 30 de agosto de 2012

espada

não que queira acreditar
mesmo que quisesse
tudo que aprendi
não me deixa
...
ter fé é para quem é feroz
tenho eu uma espada
ou algo parecido com uma
alguma fé
um olhar de tigre com fome
e a ferocidade
de um homem
...
a tira colo levo o conhecimento
adquirido dos meus antepassados
a certeza das horas
a minha indecisão perante os dias
a data de validação dos instantes
vividos
e um não-conformismo constante
...
nessa base, com a base dos pés
piso o ar deste mundo e fecundo
e penetro com festa e voo
a carne a fé a fera e o zoo

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

vermelhança

morde tua  própria carne
e pergunta: é sonho
o vermelho vivo que sangra?

vive teu próprio sonho
e pergunta à tua mordida:
é carne esta vermelhança?

vive tua sangria
e pergunta ao vermelho:
isto é próprio do sonho?

pergunta para tua carne:
é próprio do vermelho
morder o sonho?


sábado, 25 de agosto de 2012

segure-se

amar
não é seguro
amor
é o que segura
segure-se
e perca sua imanência

é na liberdade
das reciprocidades
nas constantes
superações do instante
sem fobia das horas
sem medo que o tempo acabe
(ai que horror a eternidade)
que o de dentro
vive
agora

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

mito da mentira

se pretende conhecer
teus semelhantes
terá que conviver
com os bancos
com a polícia
com o pai espancando crianças
com a igreja católica
e seu medo do corpo
com os mitos
muitos deles
criados especialmente 
para te vencer e convencer
que você é um grande
talvez
o grande culpado
de tudo de ruim
que possa estar acontecendo
inclusive de deixar
o diabo
este pobre coitado
trazer luz
para a tua  caverna
...
terá também que dizer
amém sempre
sem precisar
sem ter idéia
do que isto significa
pois não bastará aos homens
que se amem
terão sempre que dar graças
aos desgraçados santos
e anjos que te guardam
que te aguardam do outro lado da vida
porque dizem eles, sempre
que lá é melhor que aqui
que existe céu e inferno
inferno para teu eterno inverno
céu para tua eterna benevolência
e sendo assim
torna-te um escravo
da eternidade
em vida e em morte
...
paz?
que paz, rapaz?
paz, somente a dos cemitérios
é você quem vai morrer nas guerras
mesmo que não tenha sido
você quem as inventou
tu é escravo da geopolítica
escravo da economia
lembra?
você só trabalha
e quando não trabalha
é um vagabundo...maloqueiro
o mesmo xingamento destinado
aos índios do brasil
pois, conforme os ditames
eles não trabalhavam
nem procuravam emprego
(emprego...que palavra é esta que só de a pronunciar,
tu já fica com medo?)
...
cemitérios
também celebram os elefantes
estes filhos magníficos
dos magníficos mamutes
que um dia existiram...
quem sabe não mataremos
também todos os elefantes?
pois, a paz dos cemitérios
é só nossa e os cemitérios também
...que não venham eles meter
a tromba onde não foram chamados
...
árvores? florestas?
o que são florestas?
um bando de árvores?
em bando, não pode!
onde é que está a moto-serra?
precisamos de empregos
precisamos de móveis
para tudo ficar imóvel
precisamos abastecer
os lucros os capitais
financeiros internacionais
água?
para que água?
se quer, paga!
ou então, toma esta
poluída e caga
até morrer...não, não morra ainda
ainda não
tem uma conta do teu plano de saúde
ainda não paga
...
suja tuas mãos
com este óleo preto
com este carvão, olha:
tudo tem que ficar
iluminado virtualizado
o show não pode parar
o capitalismo não pode morrer
só você pode morrer
e não importa se bem
ou mal morrido
(de morte matada ou morte morrida)
não sem antes
deixar quitado
tua cova e teu caixão
aquele mesmo da árvore
do teu emprego da moto-serra
da floresta desnudada dos bancos
da água poluída
da memória dos elefantes
dos mitos das mentiras
dos teus
semelhantes
...