Sentar-me diante das palavras, e escrever como se fosse uma oração. Concentrar-me no sentido do que digo, porque esse sentido me vem, nesse poder de graça que é uma inspiração , uma dor que dói de não saber…será esse o extremo de eu assim me manifestar? Digo …não pergunto, e pergunto dizendo o que digo…
Por vezes no que digo sou uma casa desorganizada…plena de pensamentos como se fossem livros, dispersos em estantes…uns úteis, outros, absolutamente inúteis… somos em nós -sou em mim milhões de paginas por escrever e milhões já escritas…umas sempre ao pleno encontro das outras, ou por vezes em direcções tão opostas…encontro? Desencontro? Acho que nem um nem outro apenas cruzamentos que se ligam para enfim serem o que eu sou…
O desejo que nos anima é o de fixar, segurar pela palavra o que entrevemos e se nos furta. Julgamos às vezes que o atingimos, mas logo se sabe que não. Miragem perene de uma presença luminosa, de um absoluto de estarmos inundados dessa evidência, encantamento que nos deslumbra no instante e nesse instante se dissolve.
O que me arrasta nesta luta sem fim é o aceno de uma plenitude de ser, a integração perfeita do que sou no milagre que me entre(luz), a transfiguração de mim e do mundo e o mundo do que sei que passa…sem que mesmo as palavras segurem…